Espetáculo digital Dora, guerrilheira, no teatro
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Espetáculo digital
Dora, guerrilheira, no teatro
Atriz, roteirista e diretora, Sara Antunes é protagonista no filme de Flávia Castro, ‘Deslembro’. Mais: em ‘Alma Clandestina’, de José Barahona. Assim como em ‘Teobaldo morto, Romeu exilado’, de Rodrigo de Oliveira. Preto no branco: da peça ‘Guerrilheiras’
Podcast Sara Antunes
Renato Dias
Vida, luta armada, exílios no Chile, Bélgica e Alemanha, da estudante de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais [UFMG], Maria Auxiliadora Lara Barcelos. A Dora. Guerrilheira da Vanguarda Armada Revolucionária– Palmares. Organização da esquerda em armas surgida em 1969. Sob a ditadura civil e militar. No Brasil. O seu ingresso na clandestinidade ocorreu aos 23 anos de idade. Ela acabou presa, em 1969, torturada, trocada após a captura do embaixador suíço, Giovanni Enrico Bucher, em 16 de janeiro de 1971. Com mais 69 presos políticos, é enviada para Santiago. A capital do médico marxista de Valparaíso, Salvador Allende. Com o golpe de Estado civil e militar de 11 de setembro de 1973 foge para o México e depois, Europa. Três anos após, com transtornos psiquiátricos, um quadro depressivo, suicida-se. Como o frade dominicano, em 1974, na França, Tito de Alencar Lima [ALN].História de uma mulher além do seu tempo. É o que a atriz Sara Antunes leva para o teatro. Em um espetáculo inédito. Digital.
A peça, com texto e direção de Sara Antunes, estreia no dia 6 de março de 2021. Pelo sympla. Na plataforma Vímeo. Trata-se de um caleidoscópio fragmentado. A produção artística e cultural mescla trechos de cartas, imagens de arquivos e relatos autobiográficos. Registro: Ângela Bicalho, mãe de Sara Antunes, faz uma participação para lá de especial. Ao estabelecer um paralelo da vida. De Dora, da VAR – Palmares, com a trajetória familiar de Sara Antunes. Maria Auxiliadora Lara Barcelos nasceu no mesmo ano que Ângela Bicalho. As duas se envolveram na resistência à ditadura civil e militar. Uma noite que durou 21 anos. Com a deposição do presidente da República, o nacional-estatista, em sua versão trabalhista, João Belchior Marques Goulart. De São Borja. Rio Grande do Sul. O herdeiro de Getúlio Vargas, que se suicidara em 24 de agosto de 1954, às 8h30, nos aposentos presidenciais, do Palácio do Catete, Rio de Janeiro. Em grave crise política. Fomentada pelos militares e a extrema-direita.
Pais: ex-freira e ex-padre
Ex-freira, Ângela Bicalho foi presa e exilada. Assim também como o pai da Sara Antunes, Inácio Bueno, ex-padre. A atriz, roteirista e diretora possui acervo histórico inédito, repassado pelos familiares de Maria Auxiliadora Lara Barcelos. Dora traz registros de memória e afirmação das trajetórias femininas no cenário político e revolucionário. Com reduzidos elementos cênicos, a direção de arte se estrutura na escrita, pontua. Nas cartas enviadas da prisão e do exílio, diz. Trocadas entre Dora e sua mãe, Clélia Lara Barcelos. Sara Antunes produz uma metáfora através de fios vermelhos que viram vestidos e que se transformam em cartas utilizando plataformas de escrita como retroprojetor, paredes, projeções. Vestidos vermelhos, baldes e água são elementos que partiram de indicações nas cartas, relata. A peça cobre o período de 1965 a 1976. A trilha sonora de época é de chorar. O que inclui Tropicália, Violeta Parra e Torquato Neto. Não custa lembrar: as canções que marcaram a época e que Dora ouvia e recomendava.
O espetáculo Dora contém imagens de arquivo pessoais e documentos oficiais, ela informa. Além de áudios de rádio, vídeos, fotografias, recortes de jornais e revistas. Momentos de objetividade com experimentação. Com o suporte de audiovisuais. Ao vivo. Com transmissão da cada da atriz, em São Paulo. “Ao reconstruirmos a subjetividade de períodos traumáticos que deixaram marcas profundas na história do Brasil, confrontamos a política da amnésia com que se pretende, reiteradamente, apagar um passado incômodo para criar campos de ignorância histórica que, novamente, convocam abertamente forças repressoras. Dora é um projeto importante de reparação histórica, de pretensão multidisciplinar em que as lutas femininas do Brasil estão em foco”, fuzila. Sara Antunes é protagonista no filme de Flávia Castro, Deslembro. Mais: em Alma Clandestina, de José Barahona. Assim como de Teobaldo morto, Romeu exilado, de Rodrigo de Oliveira. Preto no branco: da peça Guerrilheiras.
Serviço
Espetáculo: Dora
De: 6 de março a 4 de abril de 2021
Sábados e domingos: sempre às 20h
Ingressos gratuitos no link: https://www.sympla.com.br/dora__1120657
Direção, texto e atuação: Sara Antunes
Concepção audiovisual: Henrique Landulfo e Sara Antunes
Direção de fotografia e assistência de direção: Henrique Landulfo
Produção: Jessica Leite
Direção de arte e figurino: Sara Antunes
Luz: Wagner Antônio
Desenho sonoro: Edson Secco.
Participação: Ângela Bicalho
Transmissão: Marcel Alani
Infografia
Saiba mais
1964
Golpe de
Estado:
no Brasil
1969
Prisão e
tortura
de Dora
1971
É trocada
por um
diplomata
1973
Salvador
Allende é
derrubado
1976
Dora se
suicida na
Alemanha