
Renato Dias
Com a derrota eleitoral do ano de 2022, o fracasso da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, e a condenação em 2025 dos responsáveis pela trama, o que inclui 27 anos e três meses de cadeia a Jair Messias Bolsonaro, a extrema direita está acuada. As cassações de Eduardo Bolsonaro, Alexandre Ramagem e de Carla Zambelli acentuam a crise. As reviravoltas da Lava Jato mostram que o ‘mocinho’ era o ‘bandido’. O indiciamento de Silas Malafaia já atinge o púlpito. A liquidação do Banco Master, instituição financeira do Centrão, a deixa em pânico. Operação da PF deixa nu o líder do PL na Câmara Federal Sóstenes Cavalcanti. Carlos Jordy sofre revés. O que poderá ter impactos nas urnas em 2026.

Professor doutor do Núcleo de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense [UFF], Daniel Aarão Reis Filho prevê, hoje, tempos sombrios. Ainda para a temporada de 2026. O pesquisador aponta turbulências no horizonte internacional. Sob o assédio de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos das Américas [EUA], à Venezuela e na América Latina. Irônico, o intelectual público frisa que o Brasil não ganhará a Copa do Mundo. Mais: entre apagões em São Paulo e enchentes no Rio de Janeiro, dois produtos do aquecimento global e da desordem climática, o ex-operário metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva deve ser reeleito em outubro do ano que vem. Para um novo mandato em Brasília.

“A extrema direita no Brasil estaria mesmo isolada e alvo de ataques”. É o que admite o professor doutor da Universidade de Sorocaba, São Paulo [Uniso], Fernando Casadei Salles. Em tempo: o docente observa que as direitas no cenário político mundial obtém real protagonismo, com capilaridade política e social e até forte crescimento eleitoral. Basta ver a ameaça à soberania da Venezuela, explica. Ao inquilino do Palácio de Miraflores, Nicolas Maduro, ex-motorista de ônibus, herdeiro de Hugo Chávez, morto em 5 de março de 2013. As esquerdas foram derrotadas na Argentina, Chile, Equador, Bolívia, El Salvador, Peru. Na região, o Brasil amplia também o seu isolamento, ele avalia.

Apesar das derrotas políticas e condenações jurídicas que têm sofrido desde o ano explosivo de 2022, a extrema direita no Brasil mostra força políticas e energia social de pautar os processos políticos e eleitorais no país, analisa o professor doutor da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás [UFG], David Maciel. Adepto das ideias de Karl Marx [1818-1883], ele registra os papéis do antilulismo e do golpismo na agenda. O pensador vê potencial, capacidade de mobilização da extrema direita. O que atribui à recusa de Luiz Inácio Lula da Silva em promover um enfrentamento efetivo aos seguidores de Jair Messias Bolsonaro. Tática que favorece conservadores e neoliberais, diz.

A professora doutora da Universidade Federal da Paraíba [UFPB] aposentada e escritora, Betty Almeida, diagnostica desespero da extrema direita. Ela não está acuada, afirma. Com uma sólida presença no atual Congresso Nacional, para o “seqüestro” do Orçamento da União, nos vis conglomerados de comunicação, monopólios de mídia, nas redes digitais baseadas na lógica dos algoritmos e igrejas fundamentalistas neopentecostais, sublinha. A esquerda continua sob a mira letal do Centrão, do mercado financeiro e das pautas de costumes, informa a biógrafa de Honestino Monteiro Guimarães, ex-presidente da UNE e desaparecido político em outubro do ano de 1973.

A quantidade de escândalos midiáticos protagonizados pela extrema direita constrange até mesmo os discípulos mais apaixonados do capitão reformado do Exército Brasileiro [EB] Jair Messias Bolsonaro, condenado pelo Supremo Tribunal Federal, desabafa o ex-reitor do Instituto Federal de Goiás [IFG], Paulo César. A extrema direita está acuada, dispara. Sem sombra de dúvidas, fuzila. A sua aposta é no ecossistema de desinformação, metralha o educador. Golpista e entreguista, o bloco político recebe o apoio do capital, revela. Tanto do agronegócio, quanto da indústria e dos conglomerados econômicos nacionais e transnacionais, atira o velho admirador de Paulo Freire.



Luta de classes
A democracia em risco
Acuada, não, na defensiva, observa o sociólogo Julio Turra [SP]. A extrema direita possui um sólido apoio no Congresso Nacional, vê. Tanto que aprovou o PL da Dosimetria sem dificuldades, sublinha. Fundador do PT, da CUT, de O Trabalho e do DAP, seguidor de Leon Trotski [1879-1940] e sindicalista defende manifestações permanentes de massas nas ruas para impedir um eventual acordão entre os poderes da República Legislativo, Judiciário e Executivo.

A condenação dos arquitetos da trama golpista do dia 8 de janeiro de 2023, assim como a prisão, em 2025, de Jair Messias Bolsonaro, então inéditos no Brasil, constituem passos importantes para a consolidação da democracia e a fragilização da extrema direita, destaca o cientista político Aldo Arantes [PCdoB]. O comunista alerta para o risco da guerra cultural em movimento. O que se traduz no amplo apelo da extrema direita na sociedade, declara o operador do Direito.

O economista marxista Fernando Safatle [PSB] conta que a extrema direita sofre derrotas jurídicas, golpes políticos, revezes eleitorais e não é desarticulada. Ela possui enraizamento na sociedade brasileira, demonstra. A Ação Integralista Brasileira [AIB], sob o comando de Plínio Salgado, tinha 1,5 milhão de filiados em 1938 ao tentar ocupar o Palácio do Catete e ser repelida a balas, em maio de 1938, recorda-se. A extrema direita tem influência de massas, ele explica.

Crítico, o historiador trotskista e sindicalista Clayton de Souza Avelar [PSOL] relata a @renatodias.online que o discurso moralista de suposta indignação da extrema direita contra a corrupção é falso e seletivo. Mesmo abatida, ela carrega ainda farta munição para provocar danos e estragos internos e externos ao país, registra o presidente do Sindsasc, de Brasília, Distrito Federal. É preciso ficarmos atentos aos seus movimentos em 2026, acende o alerta.

O advogado e sindicalista, Rubens Donizetti [PSTU], acredita que mesmo atingida e ferida a extrema direita não se posiciona na retaguarda. Os escândalos da Operação Lava Jato e a liquidação e crise política do Banco Master alcançam ícones da esquerda reformista e até ministros da Suprema Corte, expõe. Hugo Motta e David Alcolumbre foram eleitos com o apoio do PT, reclama. O que ocorre nos EUA, frisa. Com o 6 de janeiro de 2021 e a eleição de Donald Trump, diz.

Ao ser hegemônica no Congresso Nacional, controlar as Big Techs, ter presença nas redes digitais e poder econômico, a extrema direita não está acuada no Brasil. O Raio X é do professor de História Reinaldo Pantaleão [Unidade Popular]. O ativista político socialista da UP condena o que classifica como eventual conciliação de classes. Do PT, PC do B, PSOL, PV, PDT, PSB, Rede Sustentabilidade, Cidadania, além de CUT, CTB, UNE e Ubes, ele critica.

A extrema direita está longe de ficar acuada no Brasil, analisa Jordaci Matos. Integrante da Direção Nacional do Partido Democrático Trabalhista. O PDT foi fundado em 1980 por Leonel de Moura Brizola, relembra. Ex-governador do Estado do Rio Grande do Sul e depois do Rio de Janeiro. Morto no ano de 2004. O Congresso Nacional é dominado, hoje, por ela, denuncia. Veja as emendas parlamentares, ele sugere. A esquerda necessita avançar mais, o líder atira.

A corrupção estaria sim no DNA da extrema direita, informa Arthur Otto [Cidadania]. Os deputados federais Sóstenes Cavalcanti e Carlos Jordy, caso morassem na China, seriam fuzilados e as balas pagas pelas famílias dos mortos, frisa. Ela usa em vão o nome de Deus, a desmascara. Para o desvio dos recursos do erário, reclama. Super – homem Fake, o senador Sérgio Moro [PR] está prestes a cair, calcula. Com o seu rol de crimes e a sórdida Law Fare, crê.

Fórum da máfia?
Congresso Nacional em pauta

O Congresso Nacional é um encontro de mafiosos, alfineta o advogado e jornalista Nilton Perillo. Além de acuada, a extrema direita cheira a naftalina, já acelera, hoje, o seu declínio político e ideológico e ainda perde amplo espaço e capilaridade nas ruas e praças do Brasil, diagnostica. Ele lembra que a esquerda retoma o seu protagonismo político e eleitoral e entra forte para as lutas do ano de 2026.

Advogado, Gustavo Alves de Oliveira avalia, hoje, que a extrema direita não está isolada, sem protagonismo ou iniciativa política, no Brasil. “Acuada? Jamais,” insiste o operador do Direito. O defensor jurídico do MST em Goiás recorre a versos do cantor e compositor “Chico Buarque. O que não tem conserto nem nunca terá, o que não tem vergonha, nem nunca terá”, ele faz provocação.

Em um visceral tom de pessimismo, o advogado Fernando Luiz Dolci afirma não ver, hoje, no Brasil, a nova extrema direita acuada ou nas cordas. Os seus escândalos deveriam ser amplificados nos conglomerados de comunicação, sugere. O que não ocorre, constata. Já que não interessa aos seus proprietários, denuncia o operador do Direito. A mídia oligárquica nunca fará, ele fuzila.

Graduado em Direito, o digital influencer e ativista político de esquerda Djalma Araújo admite isolamento da extrema direita. O ex-vereador não a vê liquidada. “O velho campo político conservador e neoliberal enfrentou e perdeu o que sempre tentou destruir na história do país”, observa. As instituições, pontua. Os crimes se acumulam, frisa. Não há perseguição política, ele garante.

A extrema direita sofreu derrotas em 2025, admite Ana Rita Marcelo Castro, historiadora e mestre em Ciências da Religião. Integrante do Movimento Fé e Política, a ativista política diz que mesmo com os revezes ela continua com sólida intervenção nas redes digitais e mantém o controle do Congresso Nacional. A professora lembra ainda que a esquerda obteve vitórias relevantes no ano.

Ex-presidente da Feteg e um adepto das ideias de Leon Trotski, Altino Barros cita Nelson Rodrigues. Ele afirma que o moralista esconde um verdadeiro canalha. Mais: o ativista cobra da PF, Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal investigações, denúncias e julgamentos dos escândalos do Orçamento Secreto e das Emendas Parlamentares. Limpeza ética, atira.

Historiador e sindicalista, o trotskista Fred Frazão informa, hoje, que a extrema direita está longe de ficar acuada como campo político no país. Fascistas não são derrotados somente na justiça ou nas urnas, explica o pesquisador. “Os trabalhadores em movimento de massas devem retomar os enfrentamentos de classes”, dispara. Mobilização para as lutas do amanhã, propõe o esquerdista.

Desde o ano de 2022, a extrema direita no Brasil, mesmo com recuos em seu protagonismo político, ainda aposta no ecossistema de desinformação e até no caos cognitivo para voltar ao poder, explica a @renatodias.online Luís Celso. Sindicalista e digital influencer radicado no Estado do Pará. Região Norte do país. Ela opera a indústria da amnésia social, revela. A produção do esquecimento, diz.

Sindicalista, Jairo Pereira de Oliveira aponta que a condenação no STF dos responsáveis pela trama golpista, a suspensão do tarifaço aos produtos brasileiros por Donald Trump, a derrota da PEC da Blindagem e as operações da PF que atingem o núcleo duro do Centrão e de aliados de Jair Messias Bolsonaro colocam a extrema direita na defensiva. Com impactos para outubro de 2026, diz.

Ativa, em mobilização permanente, tanto no Congresso Nacional quanto nas redes digitais fundadas nos algoritmos das Big Techs, que possuem interesses econômicos, políticos e eleitorais, a extrema direita dará trabalho nas urnas eletrônicas do Brasil em outubro do ano que vem. A previsão é de Valdir Misnerovicz. Líder nacional do MST e também do Assentamento Canudos















