
Renato Dias
Nascido em Uganda, na África, filho de mãe oriunda da Índia, Ásia, radicado nos Estados Unidos das Américas [EUA], ele é rotulado por Donald Trump, atual presidente da República, de “comunista puro” e “maluco total”. Aos 34 anos, a cara da globalização, Zohran Mamdani, com 50,4% dos votos válidos, é o prefeito improvável da cosmopolita Nova York.

Crítico mordaz do massacre executado por Israel na Faixa de Gaza, com 67 mil mortes [Os números são de outubro de 2025], limpeza étnica, o ativista diz ser socialista na cidade que abriga Wall Street, propõe tarifa zero no transporte público, o congelamento dos aluguéis, creches universais, com supermercados municipais e os impostos progressivos.

O esquerdista avalia que a estratégia seria reduzir as desigualdades econômicas e sociais independentemente da cor da pele, religião, sexo e país de origem. Um contraponto às pautas identitárias. A centralidade é na economia e na luta de classes. Com sólida presença nas redes digitais e diálogos nas ruas e casas. Veja: com os trabalhadores precarizados.

Ácido, o professor doutor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense [UFF], Daniel Aarão Reis Filho, observa que a principal lição extraída da eleição de Nova York é a coragem de Zohran Mamdani, fundamentado em suas convicções, de enfrentar o capital. “As tendências políticas e ideológicas majoritárias, as pesquisas de opinião”, admite.

Trata-se de um exemplo para a esquerda institucional na América Latina e até no Brasil, diz. O pesquisador se refere a Luiz Inácio Lula da Silva. Gestores do capitalismo em crise e que perderam a perspectiva de mudança, ele reclama. Ele resgata a herança de Salvador Allende, eleito em 1970, no Chile, com agenda do socialismo democrático, recorda-se.

Carlos Ugo Santander, peruano, professor doutor da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, opta, hoje, pelo simbolismo das urnas. Imigrante, socialista, muçulmano que é anti-Donald Trump, ele já resume. “O que apontaria rachaduras no consenso neoliberal no centro financeiro global: Wall Street.” Um recado da base jovem do Democratas por mudança estrutural, frisa.

A vitória de Zohran Mamdani tem o rosto de minoria étnica, discurso pós-colonial e pauta do Welfare State, Estado do Bem-Estar Social, sublinha. Um ato de insurgência, define. Dentro do próprio coração do capitalismo, afirma ainda a @renatodias.online o sociólogo latino-americano. “Uma posição firme do socialismo democrático nos EUA”, vê.

A professora doutora da Universidade Federal da Paraíba aposentada, escritora gauche e biógrafa de Honestino Monteiro Guimarães, Betty Almeida, revela que Nova York é a segunda maior cidade do mundo. Com uma diversidade étnica, cultural e religiosa e alta desigualdade econômica e social, relata. Além de elevada taxa de criminalidade e violência, atira.

Em 2025, tendas de sem-teto e longas filas em albergues constituem parte dos graves problemas sociais que atingem a metrópole, frisa. Democratas e Republicanos alternaram-se no Poder Executivo Municipal, registra. Um terço da população é de cor branca, destaca. Nova York nunca elegeu à Prefeitura um negro ou mesmo uma mulher, pontua.

A eleição desafia Donald Trump e sua plataforma contra os imigrantes, cria expectativas e esperança aos eleitores, anuncia embates na política local e uma nova era na história dos EUA, fuzila. A partir da metrópole que sedia tanto Wall Street quanto a Organização das Nações Unidas [ONU], sublinha a pesquisadora da ditadura civil e militar no Brasil.

Ex-reitor do IFG, o professor doutor Paulo César interpreta o resultado das urnas como um alento. Longe de apontar ao negacionismo, à lógica insensível do mercado e da destruição ambiental, o eleitor de New York recusa o desrespeito aos imigrantes e impõe pautas à esquerda, diz. “Contraponto a Donald Trump que afetará as eleições ao Capitólio”.

Os Estados Unidos das Américas realizam em novembro de 2026 eleições à Câmara dos Deputados e Senado, explica o docente. A Casa Branca pode sofrer uma derrota, como nas últimas três eleições, perder a maioria na Casa de Leis, enfrentar grave crise política e institucional, o que impedirá avanço da autocracia, calcula Paulo César.

Cáustico, o professor doutor em Educação aposentado da Universidade de Sorocaba, a Uniso, Fernando Casadei Salles, afirma que a eleição deve ser festejada. “Mesmo assim, não pode ser superestimada.” Como eventual vitória política de uma nova esquerda, ele faz o alerta. Trata-se somente de uma vitória do Partido Democrata, desabafa.

Cruzador Aurora?
Carnot vê derrota do neoliberalismo
O procurador de Justiça do MP de Goiás aposentado Deusdete Carnot Damacena avalia a @renatodias.online que a eleição em Nova York do imigrante, socialista, muçulmano Zohran Mamdani assusta, hoje, o stablishment político mundial.

Jovem, ativista de causas na The Big Apple, com uma agenda socialista e democrática, ele quebrou o discurso do Trumpismo e dos velhos caciques do Partido Democrata nos Estados Unidos das Américas [EUA], sublinha.

Zohran Mamdani defende ainda reformas sociais inclusivas como o congelamento dos preços dos aluguéis, transporte público gratuito e apoia sanções econômicas e políticas contra o Estado de Israel, diz Deusdete Carnot Damacena.

Conectado com a metrópole, espaço urbano multicultural, com a maior diversidade linguística do Planeta, 800 idiomas falados, Nova York é a cidade mais rica, hoje, do mundo, e o radical Zohran Mamdani derrota o neoliberalismo, vê.

O socialista democrático de esquerda expôs as mazelas das entranhas na meca do capitalismo, observa. A sua vitória pode trazer esperança para os “famélicos da terra”, pontua. Ao citar verso do hino A Internacional Comunista.

De tradição marxista, sob inspiração da revolução socialista do histórico dia 25 de outubro de 1917 na Rússia, em traço simbólico, ele afirma ter ouvido o Cruzador Aurora disparar o canhão no coração do imperialismo.


EUA
Intelectuais públicos analisam eleições
Jornalista da Telesur e do Congresso Nacional, Beto Almeida afirma que, hoje, existe uma energia política, social, rebelde, criativa, transformadora que se organiza, expande e incentiva um vento de mudanças em Nova York e nos EUA. Ela obtém a solidariedade internacional, diz o intelectual latino-americano. Zohran Mamdani será alvo de sabotagem, crê.

No voto a Zohran Mamdani se escutam as vozes do encontro entre Fidel Castro e Malcolm X, no Hotel Thereza, no Harlem, sob a proteção da comunidade negra, aponta o periodista. Além das vozes de Bob Dylan e Joan Baez, dispara. Um prefeito eleito que fala em Karl Marx [1818-1883], ele informa. “Na cidade de Wall Street tem o sentido de levante político e cultural”.

Multicultural e com diversidade étnica, Nova York derrota Donald Trump, que havia declarado guerra aos imigrantes, analisa Beto Almeida. Sob insultos infames, agressões vis, perseguições, prisões arbitrárias e deportações ilegais, denuncia. Leon Trotski viveu em Nova York antes da revolução de outubro, conta. Ele editava um jornal, sublinha.

Ambientalista, o ex-deputado federal constituinte Márcio Santilli relata ainda que houve uma intensa mobilização de eleitores jovens motivados por uma agenda mais à esquerda do Partido Democrata. A rejeição à postura ditatorial do republicano Donald Trump também seria um elemento relevante em Nova York, ele explica a @renatodias.online

A eleição de Zohran Mamdani é um evidente sinal de desgaste acelerado que sofre o presidente da República dos EUA, Donald Trump, insiste o médico Fausto Jaime. Pelo descalabro de sua administração, crê. Ele terá novas derrotas políticas, aposta. O republicano pode não chegar ao final do mandato, insinua o ex-secretário de Administração.

Operador do Direito de notável saber jurídico, Fernando Luiz Dolci vê uma reação coletiva e aversão à arrogância, às medidas impopulares e truculência de Donald Trump. Nova Jersey e Virgínia foram no mesmo rumo, conta. Ele espera o impacto nas eleições de 2026 com a obtenção de maioria pelos democratas para aprovação do seu impeachment.

De sólida tradição católica, formação humanista, cultura enciclopédica, o jornalista Tom Alves sublinha, hoje, que a eleição de Zohran Mamdani é um dos sinais da insatisfação dos norte-americanos com a administração de Donald Trump. Nos grandes centros, o republicano é alvo de críticas ácidas e de protestos nas ruas, ele registra.

Animado, o ex-membro da Organização Revolucionária Marxista Política Operária, a Polop, sob a ditadura civil e militar no Brasil, o advogado e empresário do ramo imobiliário Cristiano Rodrigues, anistiado político, ressalta que a eleição, hoje, de um socialista democrático de esquerda mostra que a democracia nos EUA funciona sim. Apesar dos ataques autoritários, relata.

Um sinal profético, resume o advogado Edilberto de Castro Dias. Em alusão aos 50,4% dos votos válidos obtidos por Zohran Mamdani em Nova York. A subversão popular ao capitalismo selvagem, metralha. Nos EUA, explosão multicultural, fuzila. É o vento da história que nos convoca à ação, filosofa. Para derrotarmos a extrema direita, conclama.

Físico e engenheiro nuclear, o ativista político socialdemocrata Arthur Otto detecta sinais de desaprovação do eleitor às arbitrariedades de Donald Trump contra os imigrantes. Um basta à extrema direita dos EUA, completa. Milhões de habitantes saíram às ruas no país, conta. O republicano pode cair antes mesmo do ano de 2028, acredita.

Ideias
Esquerda internacionalista avalia urnas
Sindicalista e ativista da tradicional Frente Brasil Popular, Rosemar Cardoso Maciel informa que Zohran Mamdani lembra a inquietude do jovem argentino e médico Ernesto Guevara de La Serna. Ele afirmava que não podemos alimentar o medo, recorda-se. O imigrante muçulmano não teve medo de enfrentar o stablishment, como Wall Street em Nova York, dispara.

A civilização derrota a barbárie, conceitua o professor de História em Brasília [DF] e sindicalista Clayton de Souza Avelar. Um adepto das ideias de Leon Trotski [1879-1940]. A referência é à eleição de Zohran Mamdani em Nova York e à derrota de Donald Trump. Principal cidade da maior potência global, pleito tem repercussão mundial, ele analisa.

O prefeito eleito de Nova York, Zohran Mamdani, acentua a defesa do Estado do Bem-Estar Social, Welfare State, nos EUA, aponta. Com a implantação da justiça tributária, a oferta dos serviços públicos gratuitos e de excelência e a valorização do trabalho, explica o atual presidente do Sindicato dos Servidores da Ação Social do Distrito Federal.

Historiador, Fred Frazão põe freio na euforia momentânea e avalia que a eleição de Zohran Mamdani não resolve a crise e os problemas, nem significa tranquilidade para o presente e futuro. É que o seu programa se choca com os interesses do stablishment, Casa Branca, democratas e republicanos e dos seus doadores corporativos, ele já antevê.

A execução de sua plataforma cidadã de campanha eleitoral exigirá energia política e uma ampla mobilização social, crê. Com a realização de assembleias populares de massas e a organização de um partido político independente e de esquerda com enraizamento na classe trabalhadora, na juventude, aos imigrantes e bolsões de pobreza, afirma.

Nova York fala
Recado simbólico da eleição de Zohran Mamdani
Gilberto Correia
A vitória de Zohran Mamdani, um socialista, imigrante, muçulmano e declaradamente anti-Donald Trump, como prefeito de Nova York, tem um significado político e simbólico muito profundo, tanto para os EUA quanto para o cenário internacional. Aqui estão algumas leituras possíveis:
Grandes metrópoles americanas vêm se tornando cada vez mais progressistas, refletindo a diversidade étnica, religiosa e cultural da população. A eleição de Mamdani mostra a força crescente da ala progressista e socialista dentro do Partido Democrata. A consolidação de Nova York como um bastião contra o trumpismo e seus valores conservadores. A abertura da cidade a lideranças que representam minorias e novas vozes.
Num país ainda polarizado, a eleição de um líder assumidamente anti-Trump numa cidade símbolo do capitalismo mundial (sede de Wall Street) tem um peso simbólico e mostra que a narrativa de Trump não seduz o eleitorado urbano. E revela uma linha de resistência ao avanço conservador em estados mais progressistas. O fato de Mamdani ser muçulmano e imigrante contrasta frontalmente com a retórica de Trump sobre imigração, fronteiras e identidade nacional.
Representatividade e diversidade como pauta central
A eleição de Mamdani fortalece a percepção de que os EUA estão cada vez mais receptivos à ascensão de lideranças de origem estrangeira. Que minorias religiosas, como muçulmanos, começam a ocupar espaços antes inimagináveis e que a pauta identitária segue sendo central no debate político norte-americano.
Nova York, lar da bolsa de valores mais influente do mundo, ter como prefeito um socialista mostra uma contradição simbólica, mas também um equilíbrio. A cidade aceita ideias de justiça social, habitação pública e taxação progressiva, sem deixar de ser capitalista. Mas reforça a tendência de jovens americanos de apoiarem políticas de esquerda, especialmente em temas como saúde, moradia e educação.
A vitória de Mamdani indica o crescimento da ala socialista (inspirada em Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez). Uma possível mudança de direção da plataforma democrata, pressionada por eleitores urbanos e jovens, além, claro, de uma disputa futura dentro do partido entre moderação e progressismo.
Mensagem ao mundo
A eleição mostra ou mostrou que globalmente os EUA não são monolíticos. Existem estados e cidades altamente progressistas. E que a diversidade religiosa e cultural é um ativo político e não um obstáculo, reforçando que mesmo no “coração do capitalismo”, as ideias socialistas encontram espaço.
Em resumo, a eleição de Zohran Mamdani é simbólica porque representa a resistência ao trumpismo; O fortalecimento de agendas progressistas; Abertura a lideranças diversas e de origem imigrante; Tensões internas no Partido Democrata e o contraste entre capitalismo financeiro e um projeto político socialmente orientado.
Ela mostra, sobretudo, que os EUA vivem uma disputa profunda sobre sua identidade, seu futuro econômico e seus valores culturais. E a cidade de Nova York, mais uma vez, ilumina esse debate para o mundo. Embora não seja a única dentro do território americano.
Gilberto Silva – professor universitário aposentado















