Face perversa de uma narrativa do Mercado
Renato Dias
O capitalismo é incompatível sim com a democracia e a austeridade o sustentáculo da ordem mundial moderna, sentencia a autora de ‘A Ordem do Capital’, Clara Mattei.
Com graduação e mestrado em Filosofia, assim como doutorado em Economia, ela é italiana e professora universitária em Nova York, Estados Unidos das Américas [EUA].
A austeridade não significa menos Estado, diz Clara Mattei. É o Estado que gasta a favor das elites em detrimento da ampla maioria da população, ela explica à Folha.
A austeridade não é uma exceção no modo de produção capitalista, pontua. Trata-se, sim, de um mecanismo estrutural, analisa. Ela é funcional ao sistema neoliberal, atira.
A pesquisadora observa que o Estado ainda gasta valores estratosféricos no complexo industrial militar, socorre bancos e financia desonerações e subsídios ao mercado.
Mais: a Trindade das políticas públicas de austeridade, fiscal, monetária e industrial, opera para enfraquecer os sindicatos e manter os trabalhadores sob controle, fuzila.
É útil no momento em que uma fração expressiva da sociedade quer um modelo econômico alternativo e ampliar os direitos sociais, crê. “Para preservar o status quo.”
A docente revela que um século de políticas de austeridade desempoderou os eleitores, sublinha. Eles optaram pela extrema-direita que ao aplica-la agrada ao mercado, diz.
*O êxito da austeridade é também produzir a individualização, o trabalho precário, que fragiliza e deixa inseguro o ser humano e o impede de se identificar como trabalhador.”