Um SNI para chamar de seu
Renato Dias
O vereador Carlos Bolsonaro, filho zero dois de Jair Messias Bolsonaro, entra em uma sala e diz ao secretário-geral da Presidência da República à época, Geraldo Bebiano, sob os olhares do general do Exército Brasileiro [EB], Carlos Alberto Santos Cruz, que iria montar uma estrutura paralela na Abin.
Os dois alertaram o responsável pelo ilegal Gabinete do Ódio que a medida era um risco. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional [GSI], general do Exército Brasileiro [EB], Augusto Heleno, é consultado. Pragmático, ele não confronta a ideia. À margem da lei. Inconstitucional.
Inquilino do Palácio do Planalto, capitão Jair Messias Bolsonaro põe em execução projeto de manutenção do poder, acúmulo privado de patrimônio e preservação das carreiras dos seus filhos e amigos. Ele queria um órgão que o municiasse com informações. Para uso no xadrez da política.
Uma manhã ensolarada de terça-feira. Na Esplanada dos Ministérios. Centro do PIB político do Brasil. Dia 19 de fevereiro de 2019. Menos de dois meses no cargo. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Geraldo Bebianno, cai. Mal havia esquentado a cadeira e é exonerado.
Com um alto posto estratégico em Brasília, capital da República, Carlos Alberto dos Santos Cruz caiu em desgraça com Carlos Bolsonaro. A sua demissão saiu no dia 13 de junho do ano de 2019. Uma quinta-feira cinza. É o terceiro a ter a cabeça cortada e publicada pelo Diário Oficial da União [DOU].
Jair Messias Bolsonaro nomeia em 21 de maio de 2019 Alexandre Ramagem como diretor-geral da Abin. Ele ingressara em 2005 na PF, integra a Operação Lava Jato, em 2017, entra na área de segurança da campanha em 2018 e estabelece sólida relação com Carlos Bolsonaro. Até hoje.
Mais: o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Geraldo Bebianno faz, dia 3 de março de 2020, no Roda Viva, da TV Cultura, revelação explosiva de que Carlos Bolsonaro criara Gabinete do Ódio e Abin paralela. Não diz o nome de Alexandre Ramagem. Veja: ele morre 11 dias depois.
A cadeia de crimes
Veja: os acusados podem ter cometidos de suposta criação de organização criminosa, com formação de quadrilha, assim como o desvio de finalidade da Abin, prevaricação, corrupção, peculato, invasão telemática, informática e violação de privacidade. A história parece repetir o passado: farsa.
22 de abril de 2020
Uma confissão explícita
Ao dirigir a reunião ministerial de 22 de abril de 2020, Jair Messias Bolsonaro avisa. “Eu não esperar foder a minha família toda, de sacanagem, os meus amigos, porque não posso trocar alguém da segurança da ponta da linha,” dá o recado o então presidente da República. A Abin paralela entra em cena.
Certo da impunidade no Brasil, ele confessa. “O meu [Sistema de Informações] particular funciona. Os que tem oficialmente desinformam. E voltando ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado pelo sistema de informação.” É o que alerta o capitão reformado do Exército Brasileiro.
Que fazer?
Análise da notícia
O vereador Carlos Bolsonaro [PL] é o cérebro da área de comunicação social da família e a operação da Polícia Federal pode, sim, obter indícios e elementos para desvendar ligações com as milícias, a suposta aquisição de imóveis em dinheiro vivo, eventuais esquemas de corrupção, crimes de Fake News e o modus operandi da Abin paralela, avalia o professor doutor de Ciências Sociais, da Universidade Federal de Goiás [UFG], Carlos Ugo Santander.
Doutor em Ciências da Religião, o professor Antônio Lopes diz que o virtual órgão de inteligência operava tanto como Gabinete de Ódio quanto como Abin paralela. A PF será protagonista dos próximos capítulos com a exposição de políticos, acredita. Violência e poder, resume. Manchetes que trazem que ele coordenava um QG [Quartel General], dispara o intelectual público. Nada de novo, fuzila o pesquisador do Tempo Presente. Uma realidade caótica, metralha indignado.
Nascido na Polônia e radicado no Brasil, um adepto das ideias de Karl Marx [1818-1883] e de Leon Trotski [1879-1940], o economista Markus Sokol, de São Paulo, afirma que o Exército Brasileiro [EB] seria uma espécie de cliente vip da Cognyte, empresa como sede em Israel. Ele denuncia a Abin paralela. Assim como prega a extinção do órgão, hoje, a sua substituição por uma estrutura civil, democrática e submetida à presidência, com a punição dos envolvidos.
O historiador Reinaldo Pantaleão informa que a Agência Brasileira de Inteligência é a sucedânea do extinto SNI. O monstro criado por Golbery do Couto e Silva sob a ditadura civil e militar no Brasil. Com o auxílio de Israel, o ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro montou um monumental esquema de espionagem ilegal, relata ainda o professor. É necessário também ampliar as investigações e estabelecer as conexões em nome da democracia, propõe o marxista.
PF e Ministério Público, sob a Operação Vigilância Aproximada, produzem robustas provas dos supostos crimes cometidos pela virtual Abin paralela e até mesmo pelo eventual Gabinete do Ódio, observa o Operador do Direito Fernando Dolci [GO]. Para não pairar dúvidas referentes às séries de investigações, ele sublinha. Os próximos capítulos são imprevisíveis, calcula. Um Thriller Político do Tempo Presente. Jair Messias Bolsonaro deve temer, atira.