Mal-estar em Brasília
Renato Dias
Abril de 2020, Brasília, capital da República, reunião ministerial. Veja: eu não vou esperar foder toda a minha família, de sacanagem, anuncia o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. O recado foi dado. O Palácio do Planalto queria um órgão de inteligência patrimonialista e com ações preventivas de cerco aos ataques ao Governo Federal, assim como aos seus filhos. Com recursos públicos e humanos do Estado. É criado o Centro de Inteligência Nacional. Da Abin, subordinada ao GSI.
Uma República de Arapongas. Com uma Agência Brasileira de Inteligência [Abin] paralela. Para vigiar desafetos, vasculhar o andamento de investigações de aliados políticos, além de perseguir ministros do STF, bisbilhotar o TSE e escutar conversas de deputados federais e governador. Mais: jornalistas e até do Ministério Público. À revelia da lei. É o que teria sido montado. De 2019 a 2022. Em Brasília. Pasmem. Com a suposta anuência de Jair Messias Bolsonaro. Por Alexandre Ramagem.
A espionagem ilegal da Abin pode ter acompanhado os passos de Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, captado informação referente a Rodrigo Maia, observado as investigações do inquérito que apura a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, sem elucidação desde março de 2018. É possível que ações contra os filhos de Jair Bolsonaro foram monitoradas. O Governo Federal a serviço da família. Uma operação patrimonialista. Típica de um Estado Policial. No século 21.
O aparelho que pode ter observado, sem autorização judicial, até 30 mil pessoas, é o First Mile. Trata-se de uma mercadoria produzida por uma empresa de Israel, a Cognyte. Ela foi adquirida por R$ 5,7 milhões. Com dispensa de licitação. Para destruir a frágil democracia. Um escárnio. Aos Três Poderes. A espionagem começou com Michel Temer [MDB-SP] e virou o modus operandi de 2019 a 2022. Operação da Polícia Federal mostra que Alexandre Ramagem guarda aparelhos até 2024.
Luz na escuridão, propõe cientista social
Os atores da arena política não podem operar na escuridão, muito menos longe da moralidade em uma república democrática, analisa o professor doutor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás [UFG], Carlos Ugo Santander. Veja: o ex-chefe da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem deve sim ser investigado com absoluto rigor, avalia o pesquisador da América Latina. É abuso de poder, define. Prevaricação, atira. Uma ameaça real ao Estado de Direito, interpreta.
A velha cultura da impunidade é que teria permitido a arapongagem de Jair Messias Bolsonaro, no Palácio do Planalto, informa a socióloga Jully Anne. A estratégia era a manutenção do poder político, relata. Um bloco que prometia golpe de Estado civil e militar, recorda-se. Eles não temiam a Justiça, diz. Não é novidade, projeta a cientista social. Pesquisadora da violência política e social. A punição é indispensável, ela dispara. Para o respeito à Constituição Federal promulgada em 5 de outubro de 1988.
Uma Gestado no Brasil?
Uma Gestapo, polícia política de Adolf Hitler, ditador, tupiniquim. É o que teria sido criado sob Jair Messias Bolsonaro, Augusto Heleno e Alexandre Ramagem. Para vigiar e punir os seus desafetos. É o que afirma ao Portal de Notícias www.renatodias.online o operador do Direito Fernando Dolci. “O inquérito precisa avançar e obter provas robustas para que a Procuradoria-Geral da República ofereça denúncias, os acusados tenham direito à defesa, e caso as acusações sejam provadas, condenados no espírito das leis.”