Argentina: esquerda versus direita
Projeção do segundo turno
Entrevista com Joaquín Farina, de Buenos Aires
Renato Dias
A Argentina enfrenta em 2023 um cenário semelhante ao de Jair Messias Bolsonaro versus Fernando Haddad. É o que informa, hoje, com exclusividade ao Portal de Notícias www.renatodias.online o professor catedrático de Economia da Universidade de Buenos Aires CBC_UAP Joaquín Farina.
Javier Milei quer, sim, constituir um regime fascista e é um grave erro menosprezá-lo, diz o pesquisador e diretor do Centro de Estudos de Marxismo Quantitativo. O seu entorno social e político está repleto de militares, adeptos das ideias de Carlos Menem e até da burocracia sindical, relata.
O seu fascismo é mal classificado como “libertário” ou “anarcocapitalismo”, explica. O resultado das urnas não correspondeu às suas expectativas, é verdade, analisa. Eles conseguiram, porém, canalizar o voto direitista e negacionista do terrorismo de Estado e da juventude sem esperança, ele observa.
Joaquín Farina afirma ainda que a presença de Eduardo Bolsonaro em Buenos Aires não produziu nenhum efeito eleitoral. O filho do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro circulou pelo País e defendeu pautas regressivas e conservadoras. Veja: como a da liberação do porte de armas.
O favorito parecia ser Javier Milei, dispara. Como apontaram as pesquisas de opinião pública. As suas posturas o impediram de crescer, avalia. A extrema direita se chocou com o poder eleitoral do Peronismo, vê. “O Peronismo agora contará com uma única oferta para o próximo dia 19 de novembro”.
Internacional
Sergio Massa à frente de Javier Milei
Com a divulgação do resultado do primeiro turno das eleições de 2023, à Casa Rosada, na Argentina, no Cone – Sul, os institutos de pesquisas de opinião pública saem, hoje, com a reputação chamuscada, a extrema direita amarga nova derrota e as esquerdas comemoram uma vitória de uma batalha que os conglomerados de comunicação declaravam já estar perdida. Com Sergio Massa à frente de Javier Milei, pós-fascista.
O aumento da presença dos eleitores nas urnas, um percentual acima dos índices das primárias, o temor do projeto societário do ultraliberal, e a lembrança dos anos da ditadura civil e militar no País contribuíram para a ‘virada’. Veja: a Argentina não quer privatização selvagem, o fim dos programas sociais, a volta do velho Estado Autoritário, a liberação total das armas, muito menos a dolarização da sua economia nacional.
Javier Milei seria, sim, um mix dos cabelos esvoaçantes com ideias de Donald Trump, de doutrinas ultrapassadas da guerra fria interpretadas por Jair Messias Bolsonaro, de um receituário oriundo do anacrônico Consenso de Washington com a cara de Carlos Menem e do conservadorismo da Igreja Católica. Das frações que torcem o nariz às reformas do papa argentino Jorge Bergoglio, Francisco, que opta pelos pobres.
Mais: nacional-estatista em sua versão desenvolvimentista, com verve trabalhista, longe do vil remédio amargo neoliberal, um defensor do Estado Democrático de Direito, Sergio Massa tem livre trânsito com Luiz Inácio Lula da Silva, Gabriel Boric, Luís Arce, Gustavo Petro, Nícolas Maduro, Miguel Diaz – Canel, Lopez Obrador, Daniel Ortega, além de Xi Jinping, Joe Biden. O que pode permitir uma saída sem traumas da crise.
Brasil
Unidade contra Javier Milei
O historiador Fred Frazão, um adepto das ideias de Karl Marx [1818-1883] e de Leon Trotski [1879-1940], afirma que o espectro de Javier Milei, na Argentina, é a farsa do que foi, no Brasil, a tragédia de Jair Messias Bolsonaro [2018-2022]. Anos sombrios.
O ativista das lutas da esquerda na América Latina defende a unidade em torno de Sergio Massa, Peronista. Com um programa anticapitalista, ressalta. Nenhum voto em Javier Milei e com uma agenda crítica de apoio ao candidato do Kirchnerismo, diz o professor.