Um conflito por procuração
Renato Dias
Quinhentos dias de guerra Rússia e Ucrânia. Dezenas de milhares de mortos. Mais: oito milhões de refugiados do conflito. Veja: seis milhões de migrantes, hoje, em movimento. Cidades destruídas. Cenário devastador. De terra arrasada. É o quadro no Leste Europeu. Não há ainda perspectiva de acordo de paz.
O capital da indústria militar dos Estados Unidos das Américas faz uma operação de maximização de lucros. Além de descartar o que é obsoleto com destino a Kiev, reinventa o seu próprio arsenal para ameaçar a Rússia e mesmo a China. A narrativa de Joe Biden, esconde quem lucra mesmo no front.
A guerra na Ucrânia é uma reação defensiva da Rússia contra uma ofensiva do Ocidente após a OTAN incorporar e armar repúblicas do antigo bloco socialista e depois partes da ex-URSS, como a própria Ucrânia. Como o golpe de 2014 na Ucrânia, diz o professor doutor de História da UFG, David Maciel.
Com a ascensão de um governo pró-EUA, os ataques sistemáticos às áreas no País de população russófila, como Donetsky e até Lugansk, e o plano do governo ucraniano de integrar a OTAN acenderam o sinal de alerta para a soberania e a segurança russas. É o que analisa o especialista em geopolítica.
As duas populações têm um histórico de miscigenação e parentesco, atira. O que desaconsalharia um ataque lancinante, de proporções destrutivas épicas, pontua. A “operação especial”, destinada a semanas prolonga-se já que a OTAN financia a Ucrânia e alimenta guerra por procuração.
Uma guerra contra a Rússia, em primeira instância, e à aliança euroasiática entre a China e Rússia, como seu alvo estratégico, analisa David Maciel. A estratégia russa de promover uma guerra de média densidade e de priorizar a autonomia das áreas russófilas e da Crimeia tem sido contestada fuzila.
Não é possível saber o tamanho do expurgo promovido pela Rússia nas Forças Armadas, nem uma alteração na estratégia de média densidade adotada, examina. Os estoques de armas obsoletas vendidas pela OTAN à Ucrânia não acabaram, Ocidente pode obter ganhos e o conflito deve continuar, acredita.
Peruano, o professor doutor em Sociologia da UFG, Carlos Ugo Santander, aposta, hoje, em um eventual prolongamento do conflito bélico deflagrado no ano de 2022. Rússia e Ucrânia não conseguem escapar, saírem, do lamaçal que criaram, destaca. Sem vencidos muito menos vencedores, assinala.
O professor doutor da Universidade de Sorocaba [Uniso], Fernando Casadei Salles, diz que na passagem do emblemático 500° dia de duração da guerra, dois aspectos de tantos possíveis podem ser citados. Veja: o primeiro é o clima de euforia contraditória pela continuidade da guerra, lamenta.
Um lado do mundo assiste com medo e pessimismo o desenrolar da guerra, cada vez mais intensa, registra. Já o hard setor industrial-militar, responsável pela dinâmica da guerra, tanto dos EUA quanto da Rússia, prosperam a índices inimagináveis ao longo de suas respectivas histórias, ele metralha.
A guerra, o poder e a economia formam uma tríade harmônica, relata Fernando Casadei Salles. O segundo aspecto é quanto ao aumento de risco decorrente da perda de controle da escalada, hoje, da guerra e o desequilíbrio pode sair também do campo do controle e da racionalidade, afirma.
Professor doutor de História, Universidade Federal de Pernambuco, o escritor Marcos Guedes vê pressão dos blocos em disputa geopolítica. Não há hoje interesse em um pacto de paz das duas partes e o conflito deve durar até as eleições presidenciais nos Estados Unidos das Américas, admite ele.
Professor mestre de Sociologia e História da Universidade de Gurupi [TO], Paulo Henrique Costa Mattos diz que acusam a Rússia de barbárie e ataques a civis. “Já a OTAN envia aviões, tanques e EUA, armas explosivas de fragmentação proibidas, exemplos de que a guerra pode se arrastar por longo tempo”.
Os EUA e a Europa calcularam uma vitória da Ucrânia, OTAN, aponta o pesquisador do tema. A guerra, hoje, Rússia versus Ucrânia produzirá mais milhares de mortos, feridos e destruição no Leste Europeu, o que irá afetar a economia global, frisa o estudioso. Sem celebração de um acordo em breve, crê.