Duas faces do estupro: punição
Cadeia para Daniel Alves e Robinho?
Chega de violência à mulher
Renato Dias
Boate Sutton, Espanha. Derrotado na Copa do Mundo do Qatar, o lateral direito e meia atacante Daniel Alves paquera por atacado e inconveniência as mulheres no ambiente vip. Às quatro da manhã opta por seguir, sem ser convidado, uma jovem de 23 anos de idade.
Em 15 minutos, ele agride-a, força a mulher a segurar o seu pênis, abaixa, com violência o vestido dela, retira a sua própria camisa, fica com o peito nu com tatuagens à mostra, penetra-a, sem preservativo, sob resistência possível da vítima, ejacula, veste a roupa: sai
Funcionários da casa noturna chic avisaram a polícia. Mais: restos de sêmem foram encontrados e recolhidos no espaço da violência sexual. A garota submeteu – se a exame de corpo de delito. O que aponta sinais compatíveis com o crime sexual.
A pena de prisão em regime fechado pode chegar a 12 anos
Primeiro, o reserva da seleção brasileira negou a acusação. Segundo, confrontado com as evidências, ele mudou a versão. Terceiro, após a apresentação de provas robustas, admitiu relação consensual. Tatuagens íntimas incriminaram-lhe.
Tatuagens íntimas incriminaram-lhe
A Justiça da Espanha decretou a sua prisão preventiva. Sem direito à pagamento de fiança. Três pessoas já testemunharam contra Daniel Alves. A pena de prisão em regime fechado pode chegar a 12 anos. Não é o primeiro escândalo no futebol do País.
Rei das pedaladas, “apontado pelos mais apressados” como o sucessor de Pelé, o atacante Robinho, acusado, no ano de 2009, em Leeds, Inglaterra, de ter estuprado uma mulher, foi condenado em última instância na Itália, a exatos nove anos de cadeia.
Por um crime de estupro coletivo. De uma mulher nascida na Albânia. Velho Estado do extinto bloco socialista. O caso ocorreu em Milão. Dia 22 de março de 2013. Na Boate Sio Café. Seis homens na cena do crime. A mulher comemorava aniversário de 23 anos.
Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada
Robinho
Trechos de conversas interceptadas com autorização judicial revelam desprezo, misoginia, sexismo, machismo e crença na impunidade. Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu, diz
Recorde
Feminicídios explodem em 2022
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Quatro mulheres foram assassinadas por dia no Brasil no primeiro semestre do ano de 2022. Recorde no País. É o que apontam os números do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Mais: um crescimento de 10,2% em relação ao mesmo período de 2019. O que totaliza 699 vítimas. Jair Messias Bolsonaro [PL] assumiu a presidência da República no dia 1° de janeiro do mesmo ano.
Mulheres
Violência doméstica e assédio
Levantamento estatístico realizado pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos [ONDH] no primeiro semestre de 2022 teria registrado 31.398 denúncias e 169.676 de violações referentes à violência doméstica contra as mulheres, no Brasil. Trágico. Cruel Crimes de violência física, sexual, além de psicológica, assédio moral ou patrimonial. Índices podem estar subnotificados.
Mundo do futebol
Predadores sexuais
A cultura do estupro
‘Estupra, mas não mata!’
– Paulo Salim Maluf
Ex-governador de São Paulo, ex-prefeito de São Paulo, ex-deputado federal, ex-candidato à Presidência da República
Professor doutor em História da UFG, David Maciel frisa que a cultura do estupro é parte do machismo, da misoginia e também do obscurantismo vigentes na sociedade brasileira, e exponencialmente ampliados com o avanço político e cultural da extrema direita. A justiça deve ser aplicada com rigor nos casos de Daniel Alves e Robinho, diz
Ambos jogadores estão, hoje, envolvidos na mesma tipificação jurídica penal, analisa o professor doutor em Educação da Uniso [SP] Fernando Casadei Salles. Daniel Alves em fase de investigação, processo e julgamento e Robinho já possui a sentença condenatória com trânsito em julgado. Os dois são adeptos de Jair Messias Bolsonaro [PL], lembra.
O professor de História Reinaldo de Assis Pantaleão informa que a cultura do estupro é uma herança longa e que o machismo faz parte do controle do poder social, político, econômico e do corpo da mulher. A base de manutenção das civilizações exploradoras, resume. Os dois atletas brasileiros devem cumprir duras penas de prisão, ele fuzila.
Conta bancária e patrimônio privado não constituem álibis para a proteção de criminosos, diz a www.renatodias.online o advogado Fernando Luiz Dolci. Em ácida crítica aos predadores sexuais. Fascistas, classifica-os. Não estão acima da lei, observa. Punição com absoluto rigor, metralha. Único caminho possível é o sistema prisional, defende.
‘Penas duras e exemplares. Chega!’
Cristina Lopes
Secretária municipal de Direitos Humanos
Lugar de fala
As mulheres denunciam
A pesquisadora do Núcleo de Estudos Contra a Violência [Necrivi] da Universidade Federal de Goiás, graduada e mestranda em Sociologia, Jully Anne diz com exclusividade a www.renatodias.online que a cultura do estupro legitima a violência sexual. Ela pode ser exercitada e reforçada em ações do cotidiano, como em uma conversa entre amigos, travestidas de humor, dispara
O início já é na educação das crianças
A cientista social critica também a narrativa que estabelece o processo de separação das mulheres entre “as belas, recatadas e do lar” e as que “não são para casar”. As raízes são mais profundas, avalia. O início já é na educação das crianças e ainda ganha força na forma como a prática sexual chega ao conhecimento tanto de meninos quanto de meninas, crê. “A socialização é engendrada”
A cultura do estupro legitima a violência sexual
A socialização masculina tem arquétipos que fomentam a violência e a agressividade, diz Jully Anne. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam alto volume estatístico que confere envolvimento de homens em atos violentos e criminosos, sejam eles as vítimas ou os agressores, vê. O contato inicial com o “tema sexual” é diferente para meninos e meninas, lembra
A socialização masculina tem arquétipos que fomentam a violência e a agressividade
Um mix explosivo: a cultura do estupro, com a indústria pornô, a heteronormatividade, a masculinidade tóxica são paradigmas da sociedade os quais alimentamos, ela fuzila. Reproduzimos como realidades imutáveis, O diálogo na sociedade não consegue nem alcançar a percepção das estruturas sob as quais estamos todos inseridos, tão pouco se propõe a modificar a forma como se dá o contato inicial com o tema da prática sexual.
Um mix explosivo: a cultura do estupro, com a indústria pornô, a heteronormatividade, a masculinidade tóxica
Robinho cometeu estupro coletivo em 2013, foi condenado a 9 anos de prisão mais uma multa de R$ 374 mil, convertidos a partir do euro, somente em outubro do ano de 2022. a sua extradição acabou solicitada ao Brasil. É o que desabafa a intelectual pública. Aos 38 anos de idade, o atleta já cogita, hoje, a voltar a jogar futebol e até obteve propostas de dois times do Estado de São Paulo, diz.
Robinho cometeu estupro coletivo em 2013, foi condenado a 9 anos de prisão
O ala Daniel Alves encontra-se sob prisão preventiva e caso tramita na Espanha, relata. Jully Anne afirma que o melhor desfecho seria o cumprimento da pena estabelecida, após trânsito em julgado, no país em que ocorreu o crime. Mais: a possibilidade de assegurar a justiça à vítima de Robinho e seus cinco amigos é o governo italiano solicitar que se cumpra a pena no Brasil, conta. O estupro é crime no país, pontua.
Entrevista com Betty Almeida
‘Corpo da mulher não é mercadoria’
O corpo da mulher virou uma mercadoria, informa, hoje, a professora e escritora Betty Almeida. Em processo de vulgarização, lamenta. O estupro é tomar posse do corpo que estaria disponível, condena A autora critica Alceu Valença, pela letra da música Morena Tropicana. O homem crê que as mulheres devem ser desfrutadas, metralha. Objeto que lhe pertence para servi-lo, atira
Punições exemplares para o ala direita e meia atacante Daniel Alves, assim como para o craque Robinho, estupradores. É o que recomenda a pesquisadora do ano de 1968, no Brasil e no mundo, biografa de Honestino Monteiro Guimarães, ex-APML, desaparecido político sob a ditadura civil e militar no Brasil, e defensora dos Direitos Humanos, radicada em Brasília [DF].
Marina Sant’ Anna, advogada, ativista feminista, ex-vereadora, ex-deputada federal