Considere Vladimir Safatle dia 2
Para a Câmara dos Deputados [SP]
Luiz Eduardo Soares
Especial
Muita gente boa concorre aos legislativos estaduais e à Câmara Federal, nos mais diversos estados. A tendência compreensível é que nos concentremos nas eleições majoritárias, sobretudo na disputa presidencial, em que se confrontam Lula e o fascismo, democracia (o que nos resta dela) e a barbárie.
Mas é preciso também estar atento às candidaturas proporcionais. Tomo a liberdade de me dirigir aos amigos e às amigas de São Paulo, onde brilha o futuro sucessor de Lula, Guilherme Boulos, para lhes dizer algumas palavras sobre Vladimir Safatle. Há vários anos acompanho com grande admiração a trajetória de Vladimir, um dos mais brilhantes e socialmente engajados intelectuais de nosso país, um dos mais talentosos e sensíveis músicos de sua geração
Um ativista que merece como poucos o adjetivo revolucionário, um criador incansável de rara coragem na travessia a que se dispôs, transgredindo barreiras, ignorando fronteiras, derrubando muros, ampliando diálogos, incorporando interlocuções, valorizando pautas populares, enriquecendo agendas públicas e agora oferecendo seu nome, sua coragem, a respeitabilidade que conquistou, sua competência e sua criatividade para levar à Câmara Federal, pelo PSOL, ideias e propostas até hoje mantidas nas bolhas.
Por que não expandir o campo do possível? Por que aceitar o realismo capitalista como a única possibilidade? Se você pudesse votar em um personagem que sintetizasse Maiakovski, Bolaños, Graciliano, Marcuse, Rosa Luxemburgo, Artaud, Schoenberg, Chico Mendes, Florestan, Ferreira Gullar, Torquato Neto, Oiticica e Leminski, você desprezaria a oportunidade, dando de ombros, porque não se faz história em português, ou porque essas comparações são malucas, ou porque elas expressam uma idolatria colonizada? Será? Pense bem.
E se as semelhanças que eu invoco significarem conexões numa rede comum de fertilizações recíprocas, que se abre a você, que abraça você e acolhe outras vozes, outras cores e sensibilidades, todos os gêneros, números e graus, e aponta para um futuro comum arrebatador? E se nossas ambições puderem se elevar à altura do impossível?
Esse vocabulário nos levaria, hoje, ao isolamento e à derrota, se fosse adotado na disputa presidencial. Claro. Por isso, o PSOL de Vladimir apoia Lula. Mas a lógica da frente ampla não pode esterilizar a imaginação, a linguagem e a ação política na sociedade e no Congresso. Considere Vladimir Safatle.