Esquerda, volver!
Esquerda, volver!
Fernando Safatle
O pouco comparecimento nas manifestações do 1º de maio convocado pelas centrais sindicais parece que acendeu a luz vermelha no comitê de campanha de Lula. Nos bastidores responsabilizam-se as centrais por estar perdendo a capacidade de mobilização desde que perderam os gordos impostos sindicais. Afinal, eram com brindes deslumbrantes e sorteios de carros que arrastavam multidões nas últimas manifestações.
Longe está quando se mobilizavam politicamente nos duros anos da ditadura, expulsando o ex-governador Abreu Sodré do palanque. Agora, não só na base de brindes e quinquilharias. Ninguém aponta a ausência de trabalho de base e a falta de politização do movimento sindical ocorrida nos últimos anos. Para não falar em sua cooptação nos governos do PT. Assim foi com as centrais sindicais e até com o MST, perderam seu ímpeto reivindicativo.
Não ouso dizer nada revolucionário, porque aí seria exigir demais, pois duvido que algum dia tivessem. Pois bem, alguma coisa já dizia que não ia bem, senão Lula não atendia aos reclamos de seus aliados, trocando o núcleo dirigente de seus marqueteiros. Claro, às recentes pesquisas já alardeavam isso, às margens de diferença entre Lula e Bolsonaro mostravam uma diminuição gradativa mas mostravam.
Se tudo isso é verdade o que estariam acontecendo faltando cinco meses para a eleição? As expectativas para muitos não era ganhar no primeiro turno? Duas coisas nunca deram certo com salto alto, uma no futebol quando time entra em campo achando que já ganhou e outra em eleição quando canta vitória antes de encerrar o pleito. Mas, o que realmente estaria acontecendo com a campanha de Lula? Ele não está fazendo a coisa certa segundo o figurino?
Segundo os entendidos tinha que caminhar para o centro, o ele fez com maestria, conseguindo o imaginável trazer Geraldo Alckmin para ser seu vice. Acertou na maioria dos estados uma composição com os partidos de esquerda na escolha de candidaturas para o governo. Faltando ainda definir São Paulo, Minas Gerais e acabar de aparar as arestas no Rio de Janeiro. É necessário também afinar o discurso e ir para as ruas.
Onde mora o problema. Lula não conseguiu desde que saiu da cadeia equilibrar seu discurso. Se for comparar com o discurso do Ciro Gomes, este apresenta mais concatenação e melhor formulação especialmente quando aborda a crise econômica e suas soluções. Na realidade, se apresenta em seu conteúdo mais à esquerda do que o do Lula. O problema é que ele é destrambelhado não consegue se articular, não se junta às forças políticas.
Ele não tem movimento de massa que lhe apoie e nem partidos de peso. Mas levanta questões importantes. Como a hegemonia do capital financeiro na economia. A predominância de uma estrutura de oligopólios. Não só no sistema financeiro com apenas 4 grandes bancos dominando o mercado, como em todos os segmentos da economia. Olhem ao mercado dos combustíveis, o governo se debatendo pelas paredes brigando com os governadores para baixar os impostos
Ele mesmo reduzindo a sua parte e nada consegue para reduzir os preços dos combustíveis. Reduziu o IPI em 15% e os preços dos carros ao invés de cair aumenta. Ou seja, as indústrias não repassam os benefícios concedidos pelo governo ao consumidor simplesmente convertem em mais lucros em benefício próprio. Foi sempre assim e continuará assim sendo. Existe uma estrutura de mercado que perpassa todo o segmento da economia: oligopólio.
Por incrível que pareça deixaram de existir nos manuais dos economistas recentes embalados pelas teorias neoliberais. Contudo, estas estruturas oligopólicas não só continuam a existir apesar de até os economistas de esquerda fazerem asco delas, mas se fazem cada vez mais fortalecidas predominando em todos os segmentos da economia. Desde 1919 existe uma lei antitruste, a Lei Shermam, que bem ou mal funciona nos EUA e aqui nada.
Outra questão importante em seu discurso é a estrutura tributária altamente regressiva que condena quem ganha menos pagar mais e quem ganha mais pagar menos. Nada disso faz parte do discurso do Lula. Não toca nas questões candentes e que tocam e impactam na vida das pessoas. Não debulha e disseca a política econômica de Paulo Guedes. Não mostra pedagogicamente porque a reforma trabalhista e previdenciária prejudica os trabalhadores.
Não demonstra porque as privatizações especialmente do setor energético e do petróleo prejudicam a economia nacional e o povo em geral. Podem afirmar, isso tudo vai ser mostrado, ainda não elaboramos nosso programa de governo. Será que vai mesmo? Com esse viés depois que Aloizio Mercadante conversou com Persio Arida passei a ter minhas dúvidas sobre a postura política de tal programa. Enfim, não vamos morrer de véspera. É aguardar os próximos passos. Quem sabe a manifestações de 1º de maio deem um saculejada fazendo-os volver à esquerda.
Fernando Safatle é presidente do PSB de Catalão