Guerra inicia-se em 1991, não em 2022
Para entender o conflito Rússia, Ucrânia, Otan e EUA
Para além do que sai na mídia
Renato Dias
A guerra Rússia, Ucrânia e Otan iniciou-se com o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas [URSS], e a criação da Comunidade de Estados Independentes [CEI], anunciadas na noite fria de 25 de dezembro de 1991. Por um cabisbaixo, já derrotado, Mikhail Sergeivitch Gorbatchev. Advogado de Stavropol, com carreiras na KGB e PCURSS. Assim como pelo funeral do socialismo, o que realmente existiu, no leste europeu, pós -1989.
O Kremlin não crê em lágrimas dos EUA e Europa. Moscou e Pequim querem o fim do mundo unipolar. O começo de uma Era Multipolar. Com a Refundação da Ordem Mundial do Pós-Guerra. Um novo mapa geopolítico e comercial. Sem isolamentos. Longe da correlação de forças de 1972 e de 1991. Com recados explícitos à Ucrânia, Suécia e Finlândia e a revisão da extensão da esfera da Otan, criada em 1949, na Guerra Fria [1945-1991].
Acordos com a Otan e os EUA estabeleciam limites para preservar a segurança e a integridade territoriais do velho império. A Otan começou a desrespeitá-los. Três anos depois, em Budapeste, a imagética capital da Hungria, novos protocolos foram assinados. Boris Yeltsin deixa o poder em 1999. Vácuo ocupado pelo ex-KGB Vladimir Putin. Já, hoje, com 23 anos no poder. O que virou um capitalismo de oligarcas regulado pelo Kremlin.
Desde os 300 anos do Império Czarista, os 75 anos do socialismo vulgar soviético, a Rússia mostra a sua vocação expansionista. Com ocupações, anexações de territórios, o desrespeito à autodeterminação real das nacionalidades. A revolução russa de 25 de outubro ou 7 de novembro de 1917 incorporou à URSS mais 14 repúblicas. Após a marcha em Berlim, com a derrota de Adolf Hitler, Josep Stálin avança e ocupa o leste europeu.
Insubordinações e revoltas ocorrem como guerra civil, Revolta de Kronstadt, tentativas e derrotas de ocupação da Finlândia e Polônia. A resistência ao Holodomor, na Ucrânia, de 1929 a 1933. Violência na República Democrática Alemã, em 1953. As denúncias em fevereiro de 1956, no XX Congresso do PCURSS. A revolta na Hungria, em 1956. O massacre à Primavera de Praga, em 20, 21 e 22 de agosto de 1968. A repressão na Polônia.
A invasão de Cabul, 1979, com a desocupação do Afeganistão. Em derrota aos Mujahedins. Exército irregular financiado pelos EUA. Depois, habitat natural à Al Qaeda. Sob controle de Osama Bin Laden. Homem que planejou o ataque, em 11 de setembro de 2001, às torres gêmeas. A operação levou George W. Bush ao Afeganistão, a inventar as supostas armas de destruição em massa, e ocupar o Iraque: 20 anos de violência, sangue, mortes.
À sombra de Vladimir IIlich Ulianov, codinome Lênin
Alma-Ata, Cazaquistão. _ Primeiro exílio de Leon Trotski. 21 de dezembro de 1991. A Federação Russa, Ucrânia e Bielorrússia anunciam a criação da Comunidade de Estados Independentes [CEI]. Com a adesão de mais oito repúblicas. Já, anos depois, Bielorrússia, 5 de setembro de 2014. Rússia, Ucrânia, República Popular de Donetsk e República Popular de Lugansk celebram armistício. Não cumprido. Por Kiev. A capital. Sede do Poder Central.
A adesão veloz à Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]
Depois da missa de sétimo dia da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas [URSS], a criação e os acordos para a CEI, em 1991, e os Protocolos de Budapeste, no ano de 1994, a decretação do fim da História por Francis Fukuyama, 14 países assinaram o tratado de adesão à EU pós – 1997. Estados que integravam o bloco socialista. Os Estados Unidos deixaram a diplomacia de lado para cercar a Rússia. Basta analisar o mapa.
Quem é o outsider da Ucrânia?
Renato Dias
Volodymyr Zelenskyy, atual presidente da Ucrânia, sob ameaça no cargo, é produto das guerras híbridas que sopraram ventos conservadores. No século XXI.
Como Sílvio Berlusconi. Magnata dos conglomerados de comunicação e da indústria do futebol mundial. O homem do Bunga Bunga chegou ao poder na Itália.
Beppe Grillo, comediante, disparou contra o stablishment político. O seu Movimento Cinco Estrelas ganhou dimensão de massas e sepultou siglas históricas na Itália.
Já Viktor Orbán mirou o islamismo. Assim como acertou os LGBTsQUIA+. Além de condenar o fenômeno migratório. Já está no terceiro mandato. Onde? Na Hungria.
Republicano, Pato Donald Trump atacou os imigrantes. Ele adotou uma narrativa sexista, misógina, homofóbica, xenófoba e racista. Com tsunami de Fake News chegou à Casa Branca
Volodymyr Zelensky era um comediante. Uma de suas peças publicitárias mostra – o com metralhadoras e gatilhos disparados contra supostos membros do Legislativo. Urnas:74%
Andrezj Duda definiu os adeptos do islã, menos de 1% da população, como bodes expiatórios. Depois, LGBTsQUIA+. Imigrantes sob tiroteio. Com as bençãos da Igreja Católica: Polônia.
Narendra Modi, chefe de Estado na Índia, ascendeu ao poder. Um outsider. Como o suposto Messias, Jair Bolsonaro. Para varrer a corrupção, o comunismo e restaurar valores.
Os vilões?
Ucrânia em 2014
Golpe de Estado civil e militar
Renato Dias
Um golpe de Estado civil e militar depôs o presidente da República da Ucrânia, em 2014, Viktor Yanukovytch. União Europeia, Otan e Estados Unidos não denunciaram a ruptura da legalidade. Nenhuma ação da ONU.
Oito anos consecutivos de ataques militares. Tanto à República Popular de Donestk quanto à República Popular de Lugansk. Com a morte de civis, crianças, mulheres e idosos. A Rússia exigia cessar-fogo e o respeito à Minsk. Nada.
A Otan, a União Europeia e os Estados Unidos das Américas adotaram a mesma tática após a implosão da Iugoslávia em seis repúblicas independentes. Uma verdadeira carnificina. Na Europa. Com elevado número de cadáveres.
Vladimir Putin
Como ele é?
Um personagem multifacetado
Renato Dias
O presidente da República, Vladimir Putin, não é socialista. A Rússia é um país capitalista. Com reduzida tradição democrática. Trezentos anos de czarismo e 75 anos do socialismo vulgar. É, hoje, um regime político híbrido.
Um personagem masculino que exibe virilidade e testosterona. Ele executa pautas contrárias às bandeiras das feministas e dos LGBTsQuia+. Além dos ambientalistas e dos tradicionais movimentos pacifistas.
Não é um protagonista liberal. Trata – se de um autocrata. Com 23 anos no poder. Intolerante com os dissidentes políticos. Ele não gosta de imprensa independente. Suspeito de envenenar adversários, controla Judiciário e Legislativo.
Inteligente, Vladimir Putin adota uma narrativa nacionalista. Com elementos do cristianismo ortodoxo. Conservador. A sua máquina de guerra é violenta. Mais: a operação consolida a sua aliança estratégica com a China.
Rússia e China querem pós-2022 um mundo globalizado e multipolar. Sem um xerife, como querem os EUA, a controlar o Planeta Terra e manter os Estados – Nação sob tensão permanente e um protecionismo especial, sui generis.
Academia
Guerra deve ser suspensa.
Otan, extinta, diz escritor
Daniel Aarão Reis Filho cita Bernie Sanders e mostra complexidade da crise
Renato Dias
A invasão à Ucrânia deveria ser suspensa, as tropas voltarem aos seus lugares de origem, a crise mundial equacionada pela via diplomática e estabelecida uma nova relação, com inclusão, da Rússia ao Ocidente. A análise é do professor doutor Daniel Aarão Reis Filho. Pesquisador do Núcleo de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense [UFF]. O historiador cita Bernie Sanders e admite um ‘processo complexo’.
Ucrânia deve ser ponte de integração da Rússia com a Europa
A Ucrânia não deve ser uma fonte permanente de tensão da Rússia, uma potência militar, com arsenal nuclear, com a Europa e os EUA, diz. O escritor vê três séculos de unidade entre os povos, identidade com o cristianismo ortodoxo russo, e que devem ser levados à mesa de negociações, pontua. O especialista em Geopolítica Mundial afirma que a Organização do Atlântico Norte, a Otan, deveria ter sido extinta em 1991 com o fim da URSS.
Execução extrajudicial de jornalistas na Rússia
Daniel Aarão Reis Filho não nutre nenhuma simpatia pelo presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin. Não custa lembrar. O atual inquilino do Kremlin é acusado de possuir ‘aspirações ditatoriais’. Mais: assim como de manipular as eleições. Além de perseguir os seus opositores políticos e ideológicos. O egocrata é suspeito também de anuência com a execução extrajudicial, a sangue frio, de jornalistas no seu País.