Barbárie. Não é civilização
Assim mataram Moïse Kabagambe, negro, pobre, refugiado do Congo
No Quiosque Tropicália, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro
Renato Dias
Apenas R$ 200,00. O valor das duas diárias a que tinha direito. Um trabalho precário e não pago pelo empregador. O motivo para a morte a socos, pontapés, pauladas, golpes de tacos de beisebol, chave de pescoço. De Moïse Kabagambe. Nascido no Congo, África. De 24 anos de idade.
Radicado no Brasil. Refugiado. Em fuga da guerra, da fome e miséria. Desde o ano de 2014. Depois de vinte minutos exatos de agressões e torturas. Após a sua morte, o seu corpo foi amarrado a um poste. Homicídio, por motivo torpe, sem o direito à defesa, ato nutrido com racismo e até uma overdose de xenofobia.
Selvageria
Mesmo com Moïse Kabagambe sem vida, a brutalidade continuou. É o que informou o tio da vítima Mamanu Idumba Edou. É triste, lamenta. Uma covardia, resume o crime ocorrido dia 24 de janeiro último. A justiça é indispensável, cobra. Três acusados já estão presos.
Fábio Pirineus da Silva, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e Brendon Alexander Luz da Silva foram identificados como agressores de Moïse Kabagambe. Os três tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça do Rio de Janeiro. Depois, dois PMs intimidaram a família.
Assim caminha a humanidade
Herança do escravismo colonial
Renato Dias
O Brasil recebeu 4 milhões e novecentos mil negros africanos para o trabalho escravo no País. Pesquisas apontam ainda que mais setecentos mil teriam morrido na viagem da África à América do Sul. Dados da Agência Pública e do escritor Laurentino Gomes.
O início do tráfico negreiro para o País Tropical ocorreu no século 16, desenvolveu – se sob o 17, atingiu um novo patamar no 18 e chegou até o 19. Mais de 40% do total de 12,5 milhões transferidos à força ao Continente Americano. A história da escravidão é perversa.
Sangue e suor negro
O Brasil é produto do sangue e do suor dos africanos, à época da escravidão, informa o pesquisador Laurentino Gomes. Mais: é preciso acrescentar. Dos seus descendentes pós – abolição da escravatura, com o capitalismo tardio, periférico e dependente.
Saiba mais
Racismo estrutural
Renato Dias
Os negros ganham, em média, 50% a menos do que os brancos. Eles correspondem a 63% dos trabalhadores que recebem menos de um salário mínimo por mês de trabalho. Dos brasileiros mais ricos, 85% são brancos.
O percentual de negros assassinados no País é 132% maior do que o número de brancos. Uma diferença estratosférica. Colossal. Monumental. Dados oficiais. Do IPEA. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Feminicídio
O feminicídio, assassinato de mulher por sua condição de gênero, possui cor. Mortes de negras cresceram 58%. Já de mulheres brancas caíram 10%. De cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras.
Justiça
Manifestações programadas
Renato Dias
Dois atos públicos em protesto contra a morte do refugiado, da guerra, fome e miséria extrema que dilacera o Congo, Moïse Kabagambe, estão programados. Para sábado. Tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo.
Coalizão Negra Por Direitos
A Coalizão Negra por Direitos, as comunidades congolesas no Rio de Janeiro e em São Paulo, além de movimentos antirracistas e a família da vítima, Moïse Kabagambe, morto no Quiosque Tropicália, Barra da Tijuca, organizam os atos
_Por justiça.
Explosão nos EUA.
O silêncio no Brasil
Crime é naturalizado no País
A banalização do mal
Renato Dias
Cidade de Mineapolis, Estado de Minnesota, EUA, 25 de maio do ano de 2020. Negro, 46 anos de idade, trabalhador da área de segurança, George Floyd é preso, algemado, asfixiado e morto por agentes policiais. As cenas foram gravadas e viralizaram. Derik Chauvin o matou. Três policiais que observaram o crime e não o impediram foram demitidos. Dos seus cargos.
Sob a Pandemia do Coronavírus Covid 19, negros e brancos, não supremacistas, saíram às ruas. Nos Estados Unidos das Américas. Nas 50 unidades da Federação. Viaturas incendiadas. Edifícios de corporações apedrejados. Lojas saqueadas. Protestos em frente à Casa Branca. Um republicano, racista, homofóbico, xenófobo, sexista, misógino, Donald Trump perdeu as eleições. De 2020
Democracia racial fake
A suposta democracia racial, no Brasil, é uma imagem invertida da realidade. Nunca houve. Desde o escravismo colonial até o capitalismo globalizado, com a sua inserção subordinada e a manutenção de relações assimétricas entre o centro e a periferia. A reprimarização da economia é o exemplo. O Brasil é prisioneiro há três séculos de um racismo estrutural. 300 anos de História.
Raio X
República Democrática do Congo
Ex-colônia da Bélgica
Em guerra civil permanente
Renato Dias
Uma colônia da Bélgica, o Congo, em uma insurreição popular liderada por Patrice Lumumba, consolidada no dia 30 de junho de 1960, conquistou a independência. Dois anos antes da revolução de sua libertação nacional da Argélia contra França, de Charles De Gaulle.
Com 90 milhões de habitantes, uma projeção, o País não possui tradições democráticas. A nação aparece em 155° lugar no ranking internacional. Com 169 Estados. Segundo em extensão territorial na África, atrás da Argélia, a RDC está em uma permanente guerra civil
As disputas e guerras
Com disputas por riquezas naturais, lutas pelo controle do Estado entre etnias. A sua capital é Kinshasa. Idioma oficial, o Francês. Convivência com 200 dialetos. A moeda: Franco Congolês. País pobre, IDH baixo, taxa de mortalidade alta e reduzido acesso à educação e internet.
Justiça por Moïse Kabagambe
Contra racismo e a xenofobia
O Movimento Negro Unificado [MNU] repudia e exige justiça pelo assassinato brutal e inaceitável de Moïse Mugenyi Kabagambe, jovem negro congolês de 24 anos. Ele foi espancado até a morte no quiosque Tropicalia, no Rio de Janeiro. O jovem, que morava no Brasil desde 2014, foi assassinado após cobrar o pagamento por dois dias de trabalho. As cenas do crime foram registradas pelas câmeras de segurança do quiosque.
‘Ele foi espancado até a morte
O Movimento Negro Unificado manifesta total apoio e solidariedade à família de Moïse e cobra uma resposta da polícia do Rio. Diante de mais um crime contra a vida do povo negro, exigimos que todas as medidas para apuração e punição dos assassinos sejam tomadas. Até quando o país vai atirar corpos negros à morte? Os racistas não podem continuar impunes, a justiça tem que ser feita em respeito à família e a todos nós. Esse episódio, que escancara o cotidiano perverso do racismo no Brasil, deve servir de exemplo para punir exemplarmente os culpados.
‘Até quando o país vai atirar corpos negros à morte?
Matam-se negros por serem negros. Os assassinatos, as execuções, ocorrem dentro de casa, na saída para passear ou na hora de ir cobrar uma dívida trabalhista. Matam-se negros – do Congo ou do Rio de Janeiro, de Porto Alegre ou de Pernambuco, do Kalunga ou da Favela, sem culpa ou punição. É preciso barrar essa naturalização da morte de pessoas negras, acabando com a impunidade.
‘Matam-se negros por serem negros
O assassinato de Moïse não pode ser apenas mais um número na estatística da política genocida que impera contra o povo negro no Brasil. A retirada da vida do jovem congolês é um ato cruel que nos dará força para continuarmos a luta por uma sociedade livre de ações racistas. Estamos há 522 anos construindo esse país e resistindo a toda essa violência racial. Por aqueles e aquelas do nosso povo negro, que já não estão presentes, continuaremos em marcha para denunciar e exigir punição aos racistas.
Movimento Negro Unificado
Reaja à Violência Racial
#JusticaPorMoise#ContraRacismo#ContraXenofobia #mnunaluta#MovimentoNegroUnificado#MNU
Perfis
Negros na história da resistência
_ Rosa Parks
_ Malcom X
_ Martin Luther King
_ Angela Davis
_ Carlos Marighella
_ Frantz Fannon
_ James Baldwinn
_ Abdias Nascimento
_ Milton Santos