Dois pontos
Dois pontos
Francisco Celso Calmon
1 – Em benefício ou supremacia, na prática, da democracia eleitoral ou eleitoreira, o impeachment já era. A sociedade terá que suportar mais um ano de um famigerado governo antipovo e de um presidente genocida. Ficará para a história a impunidade decorrente da pusilanimidade das instituições democráticas e da inércia da sociedade, que optou pela anestésica passividade ante à indignação dos bravos e corajosos militantes que insistem na luta pelo Fora Bolsonaro. Partidos e movimentos enrolaram suas bandeiras de Fora Bolsonaro e impeachment já. O que deveria ser imperativo moral, deu lugar ao pragmatismo eleitoral. Enquanto isto, o juiz, que estudou nos EUA, se coloca como o articulador da chamada 3ª via eleitoral, que nada mais é que a requintada centro-direita tradicional do PSDB, MDB e alguns outros, cujo poder midiático é o da histórica mídia golpista.
Após destruir parcelas das empresas nativas, colocar de joelhos a maior empresa brasileira, a Petrobras, orgulho da história da nação, como terá credibilidade diante das empresas nacionais? Quem trai uma vez, está propenso a outras, mormente quando há cumplicidade das instituições ditas democráticas. Como uma pessoa, com currículo de comprometimento com doleiros, com fraudes processuais, com punitivistas e milicianos, com grupos mercenários e agências de informação e espionagem dos EUA, pode estar comprometido com o bem-estar do país? Isto tudo, sem mencionar a corrupção, que salta aos olhos com os sinais de enriquecimento da família.
Lembram do pedido dele ao seu ex-chefe, Jair Bolsonaro, (segundo a esposa, são uma pessoa só) de que se acontecesse algo a ele (dramático, não? Encenação!) para o governo cuidar, com uma pensão, à cônjuge, como se o governo fosse um clube de amparo aos amigos do rei. Percebam bem a cabeça desse magistrado, sem escrúpulos, sem ética, desprovido de senso moral e patriotismo. Lembremos também que Moro e os procuradores criminalizaram a política e os políticos, colocando alguns presos, com ou sem culpa. E no presente ele e Deltan Dallagnol se apresentam para adentrar no templo institucional da política profissional, demonstrando incoerência e ausência de bagagem para voos altos.
Bolsonaro teve um “posto Ipiranga”, representante direto do mercado financeiro, e foi e está sendo uma catástrofe para o povo, o juiz já tem o seu “posto Ipiranga”, o ortodoxo economista Celso Pastore, que serviu à ditadura militar, como presidente do Banco Central, no governo do ditador, que não gostava do cheiro do povo, João Figueiredo. Não são meras semelhanças entre Bolsonaro e Moro, são identidades com o mesmo projeto: destruir o Estado democrático de direito, aprimorar o Estado policial, implodir a economia nacional, tornar o país vassalo e satélite dos EUA no campo político, econômico e militar. É sair um bolsonarista ex-fardado verde-oliva, e entrar outro, um ex-toga preta, pois são um só, como acentuou a “conjê” do juiz. Afinal, o bolsonarismo é filho natural do lavajatismo.
Moro é um agente destrutivo, será assim na política, a começar no método para aglutinar forças partidárias ao seu nome. A imoralidade de fraudes é tão cumprida que duvido se irá aventurar a ser cabeça de chapa, talvez, para uma vice. Se aventurar encontrará pela frente um gigante, um estadista, Lula, que o fará voltar a ter a voz de marreco e tremedeiras próprias dos covardes, mesmo quando formados nos EUA. A rede Globo, por ora, o agasalhou. Até quando, veremos após as prévias explosivas do PSDB e suas consequências, o que vai sobrar.
2 – O ENEM é um sistema de avaliação do ensino médio do país, visa sobretudo recolher feedback da educação formal em âmbito nacional, assim como serve também como porta de entrado ao ensino universitário. O apedeutismo do governo é próprio de quem não sabe o seu significado e função, ao tentar ideologizar e politizar o ENEM. No sentido de sua ignorância, realmente é a cara do bolsonarismo, porém, não a do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que não tem cara, tem finalidade, é sem imagem apriorística, embora obtenha anualmente a imagem do ensino médio, é, pois, transparente, como manda a lei, e está a serviço do aprimoramento da política educacional de qualidade formal e oficial do Brasil.
Em contraponto aos dois pontos, os discursos do Lula têm levado entusiasmo à maioria dos brasileiros, a resgatar a esperança de que o Brasil tem jeito, que poderá voltar a ser uma das maiores economias do mundo e com uma política inclusiva e de redução das desigualdades, mais profundas e abrangentes. Contudo, não bastam discursos e boas intenções, será necessário contar com o povo trabalhador, organizado e atuante, para demandar e respaldar as políticas públicas em benefício da maioria da sociedade. Imperativo moral: fora Bolsonaro e Moro, juntos e abraçadinhos para as profundezas dos quintos do inferno da história.
Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça
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