Edival Lourenço
Arte

Edival Lourenço e Ferreira Gullar

Edival Lourenço e Ferreira Gullar, ícones da poesia mundial

Oportunidade perdida

A Ferreira Gullar
Daqui do escritório
escutei  quando ele
arrastou os pés
para retirar o barro
 das sandálias.
Raspou a garganta
e puxou uma tosse
de aproximação.
A porta rangeu.
Escutei seus passos
claudicantes
                   pela sala.
Continuei no escritório
ultimando uma frase
para não perder o fio
da ideia e sair correndo
                para abraçá-lo.
Não sei se a frase era longa
além da conta
ou sua visita,
                    muito fugaz.
Quando cheguei à sala
não havia mais ninguém.
Senti apenas uma alucinação
olfativa com o cheiro antigo
de seu cigarro de palha
                        e fumo de corda.
Só então percebi
                   o meu equívoco
em não ter saído correndo
imediatamente
              para abraçar meu pai.
Afinal
faz cinquenta e sete anos
que ele saiu
para umas andanças etéreas
e só agora dava sinais
           de que estaria
                                    de volta.
Edival Lourenço

Revelação

Sem prévio
alarde
Deus puxa
um laço de fita
e o relâmpago
desembrulha
a tarde.
em A caligrafia das heras

Pandemia 

Não é acinte:
a ordem agora
é que se evite.
Evite
o nexo
o amplexo
o sexo
e até o bom dia
de muito perto.
Evite
a multidão
o salão
o corre-mão
até o filho que voltou
da feira de Cantão.
Agora não é 8
nem 80.
É 666
com vírus em riste.
Portanto, evite
ou sucumba
em dois mil e vinte.
Edival Lourenço

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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