De quem é o 7 de setembro?
De quem é o 7 de setembro?
Francisco Celso Calmon
É tradição das forças democráticas saudarem o 7 de setembro com o grito dos excluídos e suas bandeiras conjunturais e históricas há mais de duas dezenas de anos, precisamente 27 anos. A parada de sete de setembro sempre foi cívico-militar, embora a independência não fora obra nem de povo e nem de militares, uma articulação vitoriosa das elites locais e uma dívida de dois milhões de libras esterlinas. Para pagar, o Brasil recorreu a um empréstimo da Inglaterra e aí começou a nossa dependência econômica
O que deseja Jair Messias Bolsonaro e seus seguidores fomentando confronto no dia da independência do Brasil? Um presidente da República provocando divisão e conflito entre seu povo, cujo dever seria o de manter a paz social, é mais do que chocante, é deprimente. E mais ainda: é criminoso! Além da desarmonia entre os poderes que provoca há longo tempo, a nova fase é incentivar conflitos físicos entre brasileiros.
Jair Bolsonaro e seus seguidores representam o que podemos chamar de lumpem-representantes da burguesia. Não fazem parte da elite, são escória, descartáveis. Para Bolsonaro é tudo ou nada, mas para a burguesia não existe o nada. O clima que o Bolsonarismo quer criar para amedrontar os movimentos democráticos que estarão nos gritos dos excluídos (oprimidos, explorados, desempregados, desalojados), tem o objetivo de imobilizar a população de se indignar com a situação crítica que o país vive há dois anos com esse desgoverno.
Se a militância social temer, imobilizarão amanhã quem? O povo é a última cidadela de defesa da democracia. Se acovardar-se, as instituições democráticas ficarão fragilizadas, como até há pouco estavam. O timing é este. Instituições reagindo e o povo militante nas ruas. O resultado será a direita encontrar algum candidato competitivo, e isso será bom para as eleições democráticas. No combate à ditadura militar, se os militantes não tivessem resistido com as armas da crítica, enquanto deu, e com a crítica das armas, quando inevitável, a ditadura teria navegado em mar de almirante.
A geração-68, de estudantes e operários, foi ao sacrifício consciente de seu papel histórico, no Brasil e no mundo. No presente as gerações atuais devem se armar de coragem e conscientes de seu dever nesta conjuntura histórica mostrar que o filho seu não foge à luta. Quanto ao golpe ou aventura bolsonarista cabe perguntar: quais as forças do Bolsonaro? Quais instituições, quais entidades, quais segmentos sociais? O 7 de setembro de Bolsonaro e seguidores é o da arruaça, da balbúrdia, do conflito, enfim, da hostilidade à democracia; o 7 de setembro dos movimentos sociais é o da resistência e defesa da democracia e da pátria.
Será que as FAs colocarão ainda mais a sua reputação e dever constitucional numa aventura golpista? Quais os meios de comunicação estão com o terrorista presidente? Até onde e quando o Centrão estará apoiando Jair Bolsonaro à medida que a sua reeleição vai fazendo água? Jair Bolsonaro está se isolando. É o timing certo para a oposição avançar: CPI, STF, TSE, Congresso Nacional, mídia, entidades empresariais, centrais sindicais dos trabalhadores, e, sobretudo, os movimentos de juventude e trabalhadores ocupando as ruas.
O que mais o genocida do planalto precisa fazer para o presidente da Câmara aceitar um dos muitos pedidos de impeachment? Agredir a mais quem, a qual instituição precisa ameaçar de novo, difamar a quem e a quê novamente? Os que na atualidade ainda o apoiam, acalentam qual esperança diante de um Brasil decadente? Jair Bolsonaro continuará com o seu sonho totalitário, se este 7 de setembro do conflito, do caos, não se confirmar, outras tentativas ocorrerão, até ser parado. O dia da pátria não pode ser dos vendilhões do patrimônio nacional, dos entreguistas de nossas riquezas e nem dos subalternos à bandeira dos Estados Unidos.
Francisco Celso Calmon, ex-coordenador da RBMVJ, membro da coordenação do canal pororoca.