Terrorismo bolsonarista
Terrorismo bolsonarista
Helena Chagas
Quase todos os dias, vamos dormir convencidos de que Jair Bolsonaro não tem apoio político, econômico, social e nem militar para dar um golpe. E acordamos com mais uma ameaça por WhatsApp, Twitter ou entrevista de rádio, dele, de auxiliares, puxa-sacos e demais bolsonaristas. Na escalada retórica, as ameaças semanais viraram diárias, às vezes tem duas por dia. O que querem Bolsonaro e os seus? Tocar terror, meter medo. Bolsonaro quer fazer terrorismo usando os únicos recursos que domina bem: mentir, inventar fake news, recorrer a subterfúgios, como a suposta fraude nas urnas eletrônicas, para alimentar o discurso de sua turma. Quer ver nossos cabelos se arrepiando e, quem sabe assim, levar alguns a abrir a guarda e ceder aos seus absurdos.
E não é que às vezes até consegue? Parece não haver golpe no horizonte, apesar das claras intenções do presidente de desferi-lo. Mas boa parte de nós nasceu e cresceu durante uma ditadura. E se?? É aí que reside a essência do mal que Bolsonaro faz ao país. Dá para viver em paz num ambiente desses? Ouvindo a autoridade máxima da República falar em golpe todos os dias? Esperando o golpe do 7 de setembro de Sergio Reis, que trocou a viola pelas armas golpistas, chegar? Não chegará, sabemos todos em nossa racionalidade. Mas pode haver tumulto, distúrbios, sangue derramado?
Medo do golpe
O medo do golpe que não vai chegar também pode ter consequências políticas, e já há claramente gente mal-intencionada querendo misturar uma possível vitória do ex-presidente Lula em 2022 ao caldo golpista do presidente da República e seus DASs militares. Sabemos que Lula não é o candidato preferido das Forças Armadas, mas daí a acreditar, como especulam alguns “consultores”, que haveria um atentado à democracia e às eleições para impedir sua posse é ir longe demais — segundo os próprios militares da ativa que mantêm o profissionalismo.
Estão nesse mesmo jogo aqueles que alimentam as especulações de que o “PIB”, o establishment econômico, também não aceitaria uma volta do petista. Chega a soar ridículo, em se tratando de um sujeito que já governou oito anos, e de personagens que frequentavam o Planalto e eram costumeiramente ouvidos. Está muito difícil viver o Brasil desses tristes anos. Mas, antes de tudo, é preciso respirar fundo, contar até dez e não cair em provocação de fantasmas que não deveriam mais nos assustar. Buuuuuu para você também, Bolsonaro!! Como diz muita gente, o medo de ter medo às vezes é pior do que o próprio medo.
Helena Chagas _ Jornalista, formada na Universidade de Brasília em 1982. De lá para cá, trabalhou como repórter, colunista, comentarista, coordenadora, chefe de redação ou diretora de sucursal em diversos veículos, como O Globo, Estado de S. Paulo, SBT e TV Brasil (EBC). Foi ministra chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República de janeiro de 2011 a janeiro de 2014.