As entrelinhas da tentativa de golpe

Caso Braga Neto

Democracia e eleições ameaçadas?
As entrelinhas da tentativa de golpe
Renato Dias
Um recado. Nada por escrito. Ameaça. Bravata. É o que fez o ministro da Defesa, general Braga Neto. Ele desfilou, sábado, de moto com o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro [Sem partido]. Em Brasília. A observação é do professor doutor da Universidade Federal Fluminense [UFF] Daniel Aarão Reis Filho, aos 75 anos de idade. O blefe deve ser desprezado, avalia.

– O que me preocupa é a ausência de auto-organização das gentes.
O pesquisador afirma com exclusividade ao Portal de Notícias www.renatodias.online que as entidades despertaram para a possibilidade e a necessidade de manifestações públicas, pontua. Jair Bolsonaro é mais perigoso do que o Coronavírus Covid 19, atira. Há uma resistência dos partidos, sindicatos e ‘frentes’ de estimular a auto-organização, avalia o pensador gauche.

– Com fóruns e a formulação de plataformas para democratizar a democracia. Só assim o povo lutará em defesa da democracia.

O recado a Arthur Lira é uma ameaça das Forças Armadas para sair do foco das 550 mil mortes sob a Pandemia e dos escândalos de corrupção desnudados pela CPI do Senado da República, examina o professor doutor da Faculdade de História da UFG, David Maciel. O voto impresso não deve ser aprovado no Congresso Nacional, avalia. Não creio em vitória de um golpe, narra.
– A sua consolidação é incerta.

Professor doutor de Economia da PUC Goiás, Jefferson de Castro Vieira classifica como um absoluto retrocesso a ameaça do ministro da Defesa, Braga Neto, ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Em um momento histórico em que o mundo caminha e clama por liberdades, direitos e democracia, afirma ao Portal de Notícias www.renatodias.online

Um delírio. Do desgoverno do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, do seu vice, Hamilton Mourão Filho, além do ministro da Defesa, Braga Neto, assim como de seus pimpolhos zero um, zero dois, zero três e até do zero quatro. A sua trupe. É o que vocifera a professora Jacqueline Cunha. Graduada em Pedagogia, com mestrado e doutorado em Educação.
Relativização. É o que deve ser feito com a ameaça do ministro da Defesa, general Braga Neto. É o que observa o doutor em Sociologia da PUC [Goiás] Silvio Costa. As Forças Armadas adotam liturgias não republicanas, patrimonialistas, que misturam público e privado e com os interesses políticos do atual inquilino do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, Mensageiro da Morte.
– Até os fardados e civis do golpe de 1964 tiveram que devolver o poder aos civis. Já que a ditadura civil e militar fracassou.

Já que as Forças Armadas possuem tanta força, qual o motivo de não deflagrarem um golpe de Estado, hoje, em 2021, questiona. É uma bravata, resume. É necessário processar, julgar e condenar quem ameaça com a ruptura institucional, define. Inadmissível conviver com fascistas, reclama. A hora é de unidade dos democratas, cerrar fileiras pela democracia e República, frisa Silvio Costa.
– Uma ameaça. Uma impostura. Da extrema-direita no Brasil, encastelada nas Forças Armada, PMs e PCs.
Quem dispara é o historiador Clayton de Souza Avelar. Ministro da Defesa, general Braga Neto, não possui a liturgia indispensável para o cargo, desrespeita a Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, e deve ser afastado como o seu presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, membro do Centrão, responsável por 550 mil mortes e pela crise no Brasil, registra.
Clayton de Souza Avelar
Além da pressão inconstitucional para aprovar o voto impresso, uma obsessão delírio-paranoide do Palácio do Planalto, Braga Neto quer blindar os membros das Forças Armadas enrolados e com as cabeças à prêmio na CPI do Senado da República da Pandemia do Coronavírus Covid 19, afirma o jornalista e historiador Frederico Vitor de Oliveira. Marxista. Longe da história cultural.
É um sintoma da corrosão institucional do Brasil, anota o especialista em Geopolítica e Questões Militares. A escalada das direitas autoritárias no País, sentencia. Inflexão, guardadas as devidas proporções, como de Recep Erdogan, na Turquia; Viktor Orbán, na Hungria; Narendra Modi, na Índia; Andrzej Duda, na Polônia; Donald Trump, EUA, derrotado, diz. Como ópera bufa, ironiza.

– A ameaça à ruptura institucional, com o cancelamento das eleições, por um servidor público fardado, sob uma República não patrimonialista e democrática, teria graves consequências jurídicas e penais.

Balão de ensaio
Um balão de ensaio do general Braga Neto. De uma mediocridade e ignorância ‘sesquipedal’, como dizia o velho golpista general Olímpio Mourão Filho. A vaca fardada de 1937 e de 1964. Duas ditaduras. A análise é de Jair Krishke. Advogado e presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos. Com sede em Porto Alegre-RS. Depois da bobagem, tentou negá-la, fuzila.

Do triste episódio resta apenas constatação de que os militares da ativa, em sua maioria, não apoiam a quebra, a ruptura da institucionalidade, observa o ativista dos Direitos Humanos na América Latina. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz diz que “ameaças são absurdas, como de que talvez não tenha eleição em 2022″ Eleição é fundamento básico da democracia”, frisa.
– Uma tentativa de golpe resultará em graves sanções internacionais o que inviabilizaria a margem da legalidade do governo federal.
Coronha do revólver
Procurador de Justiça do Estado de São Paulo aposentado, José Damião de Lima Trindade lembra que os generais de Jair Bolsonaro pegam na coronha do revólver. Logo em seguida retiram a mão, mas a mantêm a centímetros da arma, ataca o jurista. A democracia está encurralada, sob ameaça, ele alerta. “Impossível ter certeza até onde irá o jogo de cena do fanfarrão,” fuzila.

José Damião de Lima Trindade não sabe se trata de uma sequência de passos até uma nova ditadura civil e militar, como a instalada em 2 de abril de 1964. Os generais, à época, mantiveram as ‘instituições’ abertas na maior parte dos 21 anos, recorda – se. De tempos em tempos, fechavam o Congresso Nacional, faziam uma limpeza e o reabriam, de cócoras, amedrontado, critica.
– Mutatis mutandi, o mesmo com os tribunais. Já que fazia parte da encenação manter as instituições ‘funcionando’.
Resta saber se, hoje, em 2021, século XXI, as mesmas instituições aceitarão refazer o jogo de faz-de-conta ou se, em um momento, darão um basta a generais liberticidas com vocação para ditadores, como o da Itália, de 1922 a 1944, Benito Mussolini, fascista, desabafa. Se demorar, pode não dar tempo de salvar o que resta de liberdades e direitos humanos, acredita.
Pôquer, não xadrez
Analista de cenários, o escritor, jornalista, editor de canal no YouTube, ex – guerrilheiro da VAR – Palmares, Francisco Celso Calmon enxerga pôquer e não vê xadrez. Um jogo com Jair Bolsonaro, frações militares e o Centrão, registra. Não há força institucional para alterar as eleições e nem para uma aventura golpista, destaca. De tipo bonapartista. Blefes, frisa.

Eles usam coturnos lustrosos, torram o escasso dinheiro público com picanha e bacalhau superfaturados em lojas de fachada, cujos donos seriam ligados à corporação, como apontam o Metrópoles, Carta Capital e Isto é. É o que afirma o velho revolucionário socialista Martiniano Cavalcante. Esses que arrotam amor à pátria, não tiram suas bocas peçonhentas das tetas magras da viúva e sonham reviver a ordem do pau-de-arara e do choque elétrico, insiste
– Não há inteligência, nem brio ou força moral capazes sustentarem seus torpes delírios fascistas.
Martiniano Cavalcante
O Brasil, em julho de 2021, voltou a ser amordaçado por uma ditadura civil e militar, como a que derrubou o presidente da República, João Belchior Marques Goulart, em 1964, e retornou à caserna somente após a promulgação da Carta Magna Cidadã de 5 de outubro de 1988? É o que quer saber Guilherme Freitas. Arquiteto e urbanista especialista em Planejamento Urbano.

– Puro atraso.
Assim o advogado e anistiado político sob a ditadura civil e militar Cristiano Rodrigues interpreta a ameaça do ministro da Defesa, Braga Neto, a Arthur Lira. É uma tentativa inaceitável, anacrônica, de engessar as eleições de 2022, ao Palácio do Planalto, reflete. Ele deveria ser alvo de denúncia, processado e enquadrado, afirma. Como o general Eduardo Pazuello, não será, crê.

O ministro da Defesa, general Braga Neto, é retrógrado, ultrapassado, eivado de denúncias de corrupção, acusa Rubens Donizetti. Advogado, presidente do PSTU e integrante da CSP Conlutas, diz que a ameaça levará milhões às ruas, no Brasil e no exterior. Os seis mil militares, que exercem funções civis, devem ser exonerados, assim como Jair Bolsonaro afastado, desabafa.

Frente e batalha ideológica e cultural
O advogado e cientista político Aldo Arantes avalia que se trata de uma operação, uma arquitetura do caos, de vai-e-volta dos Palácios do Alvorada e do Planalto. Com a resolução de Jair Bolsonaro e do ministro da Defesa, general Braga Neto, com a anuência dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, reclama. Frente ampla e batalha cultural e ideológica, relata o ex-deputado federal constituinte nota 10 do Diap.
