Francisco Celso Calmon
Opinião

Pêndulos

Pêndulos

Francisco Celso Calmon

A Teoria da conspiração, criada pelos conspiradores permanentes, como a CIA e jornalistas e intelectuais a seu serviço, tem sido usada por um policiamento pequeno burguês nativo, geralmente temerosos de compreender a realidade tal qual é, e não alvitre de óculos ideológicos para encobrir uma histórica realidade brasileira. Fazemos parte de um mundo espionado e monitorado sob permanente conspiração das forças em contenda.

Jair Bolsonaro

O assassinato de John Kennedy, as explosões das torres gêmeas, o combate às drogas, tráficos e emigrações, fazem parte de uma cadeia de conspiração e corrupção sistêmica do Estado norte-americano e de outros. No Brasil, o plano Cohen, as pedaladas contábeis com STF e tudo mais – razão do golpe de 2016, são expressões de conspirações baseadas em informações mentirosas. O bolsonarismo e a pandemia tiraram o véu do capitalismo, mostraram a insustentável leveza da democracia brasileira, entretanto, a intelectualidade orgânica e os líderes partidários de esquerda não estão travando a imprescindível luta ideologia. A convivência da democracia com o capitalismo dura um tempo, porém é inevitável o antagonismo. Não havendo proposição e luta por um sistema alternativo, viveremos na eterna ilusão de um capitalismo humanizado.

Fachada do edifício sede do Supremo Tribunal Federal – STF

A chamada teoria da conspiração é usada pelos conjurados para inibir incautos de perceber os sinais conspiratórios e proagir no tempo certo, e/ou para aplicar o invólucro e a pecha à luta dos seus opositores, como se fossem os conspiradores da democracia. Isso não ocorre porque a democracia é imprescindível à esquerda para avançar na correlação de forças. Sem democracia quem mais perde é a esquerda política e o povo em geral. A luta de classes é permanente, ocorre nos três planos da estrutura da sociedade:  econômico, social e político, e como um axioma não precisa ser demonstrada, é objetiva, é histórica, precisa é não ser esquecida e operada diuturnamente.

Devemos evitar e diferenciar a concepção científica da história com a visão moralista. A primeira compreende a sociedade dividida em classes com interesses contrários, a segunda divide as pessoas entre bons e maus puros e ímpios, justos e injustos, por isso acaba desagregando a luta de classes, colocando, em última instância, o indivíduo acima da coletividade. A concepção moralista dos governos foi responsável pela lei da ficha lima, delação premiada, criminalização dos movimentos sociais de ruas e pelo combate à corrupção, sem ir e combater às causas maiores.

A história é nossa mestra e com ela temos que estar sempre aprendendo, entretanto, estamos sendo repetentes, além de faltarem alunos. É repeteco o caminho reformista, via eleitoral, institucional, sem fomentar o empoderamento popular pela construção da democracia de raiz. Conhecemos os acordos feitos por cima e onde vão dar. Mais adiante, cedo ou tarde, a fatura vem e geralmente é alta (Vide Lei da Anistia).  Se não houver transparência e envolvimento da sociedade não poderemos esperar sustentação, continuará a despolitização, a alienação basal da militância e do povo em geral.

Anistia, em 1979

A consciência de rejeição ao pretérito brasileiro (escravidão, autoritarismos e ditaduras, tentativas e golpes realizados) e a consciência de classe em si e para si são premissas e pressupostos necessários à realização da luta política de classes.  Para nós que pregamos a necessidade da revolução social, sabemos que sem o empoderamento político dos trabalhadores, cairemos no método reformista com conciliação de classes, em vez de reformas com luta de classes. Informação e contrainformação são instrumentos de ação e proação, na contenda dialética, sem esperar acontecer. É AGITPROP constante.

A necessária unidade da esquerda na frente ampla para derrogar o bolsonarismo, deve ser argamassada com um programa de princípios orientadores, um plano de metas de transição de 2023 até 2027, cujos marcos serão: revogar todos os atos do governo Bolsonaro, preparar uma Constituinte para realizar as reformas estruturais. A possibilidade de Lula vencer as eleições no primeiro turno aumenta e acresce a importância das eleições para o Congresso nacional. Presidente (a) sem um Congresso dialogável, pelo menos equilibrado, nós já vimos os filmes.

Luiz Inácio Lula da Silva – caricatura
Luiz Inácio Lula da Silva – caricatura

A inteligência democrática tem que se fazer valer para elaborar uma eficiente estratégia eleitoral que leve as forças progressistas a vencer as eleições proporcionais em 2022. Na refrega conjuntural temos dois pêndulos principais: um da direita e outro da esquerda. O da direita são as Forças Armadas, o da esquerda as manifestações de ruas. As ruas constituem o nosso principal teatro de operações, abdicar significa o auto enfraquecimento, a autossabotagem. Ainda é cedo para medir e prever, porém, não para equilibrar a correlação de forças.

Ato de 19 de junho de 2021 em São Paulo

A juventude estudantil e a classe média estão mobilizando suas energias, é imperativa que os trabalhadores e os marginalizados da cidadania engrossem a onda de rejeição ao governo dolosamente genocida. O genocida do Planalto ensaia movimentos de uma possível aventura: amedrontar Brasília com caminhões e motocicletas.  Quando e com qual propósito? Como evitar? A melhor resposta será o impeachment. A CPI dará os elementos necessários para a pressão ao presidente da Câmara abrir o processo de impedimento? Dependerá desses pêndulos e da ampla frente que está sendo pactuada por cima.

Congresso Nacional
Congresso Nacional

O foco predominante de agora em diante serão as eleições, salvo se o presidente da Câmara abrir o processo de impeachment. Os que sustentam o governo no parlamento vão se desgarrar na exata proporção que o governo perder popularidade e o Lula aumentar a sua vantagem. Não são muitas as variáveis, mas são mutáveis, aos ventos estranhos de uma conjuntura singular, que tem como epicentro a tragédia de mais de meio milhão de mortos, capitaneada pelo serial killer do planalto. Mata com prazer sádico, com zombaria e sorriso entre os dentes. Ele queria matar 30 mil esquerdistas, já ultrapassou meio milhão de brasileiros. É necessário responder com uma paralização nacional e uma marcha fúnebre em todos os cantos do país. Aceitar com naturalidade é desumano, é derrotismo. Para não esquecer e cobrar: quem mandou matar Marielle? A biltre famiglia está envolvida até que geração?

Marielle Franco

 

Francisco Celso Calmon, ex-coordenador nacional da RBMVJ, coordenador do canal ρσяσяσcα.

O artigo não expressa necessariamente a opinião do Portal de Notícias

 

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

Avatar photo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *