Os últimos dias de Dilma Rousseff no poder

Alvorada

Filme de 2016 de Anna Muylaert e Lo Politti é contemporâneo do Brasil de 2021

Renato Dias

Alvorada quer dizer o início. Mais: o começo. O amanhecer. É o que significa o título do documentário assinado por duas mulheres: Anna Muylaert e Lo Politti. Os últimos dias de Dilma Rousseff no poder. Com o golpe pós-moderno do ano de 2016. Um conceito formulado pelo sociólogo da Universidade de Coimbra, Portugal, Boaventura de Souza Santos. Um impeachment sem crime de responsabilidade. Alvorada, com uma hora e 30 minutos de duração. Especial.

À época deputado federal do baixo clero, Jair Messias Bolsonaro, em sessão realizada dia 17 de abril do ano que não acabou, invoca a memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. De tris­te lembrança à democracia e aos direitos humanos. Comandante do DOI-CODI, do II Exército, sediado em São Paulo. Um dos torturadores. Da então guerrilheira da Var-Palmares. A presi­dente da República eleita com 54,5 milhões de votos, Dilma Rousseff, é afastada dia 12 de maio.

Mês trágico para a República, por 61 a 20, sem nenhuma ausência ou abstenção, o Senado Federal aprova, dia 31 de agosto do mesmo ano, o golpe de Estado de novo tipo. Parlamentar, com o aval do Supremo Tribunal Federal. O STF. Editoriais favoráveis dos Conglomerados de Comunicação. Como o da Folha de S. Paulo. Monopólios de mídia do stablishment. Vertebrado pelas classes médias fascistas nas ruas. Logo a maldição do impeachment entra em cena.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha [MDB-RJ], apóstolo da narrativa anticorrupção do MBL, é preso. Michel Temer cai em desgraça e passa um tempo no cárcere. Paladino da ética e da moralidade, o tucano Aécio Neves é desmascarado. Juiz de Direito Federal de Curitiba, Sérgio Moro, que havia sido idolatrado até nos Estados Unidos, é exonerado do Ministério da Justiça e Segurança Pública e declarado parcial pela corte suprema do Brasil.

Mulher que aprendeu a apreciar o tango de Carlos Gardel, da Argentina, País do Cone-Sul, na cadeia, nos tempos sombrios da ditadura civil e militar, Dilma Rousseff quer mesmo é ganhar ‘a batalha pela memória’. O que o Tempo Presente mostra que ela conseguiu. José Eduardo Cardozo fez a sua defesa jurídica. Chico Buarque, Guilherme Boulos e Luiz Inácio Lula da Silva testemunharam o teatro no Senado. Ópera bufa. Jacques Wagner [BA] recebe a notificação.

Olê, olê, olá. Dilma, Dilma! Palavras de ordem que ecoam à sua saída do Palácio do Alvorada. Bandeiras vermelhas são desfraldadas em Brasília. Capital da República. Vampiro, Michel Temer, exposto ao sol, derrete, chega a 1% de aprovação apenas e para atrás das grades. Suposto outsider, com oito mandatos eletivos consecutivos, uma facada suspeita, tsunami de Fake News, orientações de Steve Bannon, que acabaria preso, Jair Bolsonaro é eleito presidente do Brasil.

A Pandemia do Coronavírus Covid 19 devasta o País. De norte a Sul. Nos 5.570 municípios. Das 27 unidades da Federação. Com 500 mil mortos. A maior tragédia sanitária e de saúde pública da História. Mais do que a Gripe Espanhola. Queda de 4,1% do PIB. Assim como 15 milhões de desempregados, 105 milhões de habitantes em insegurança alimentar. Além de alta da taxa de juros, inflação, dólar, euro e libra nas alturas, volta ao Mapa da Fome. É a República das Milícias.