Setembro não existe

Histórias não reveladas

Escombros e cicatrizes ainda abertas da Justiça de Transição tardia e incompleta da Guerra Civil Espanhola e dos crimes do generalíssimo Francisco Franco

Renato Dias

Setembro não existia. Para os familiares de Santos Cancioneiro. Uma das milhares de vítimas da repressão política e militar de Francisco Franco. Após a derrota dos Republicanos na Guerra Civil Espanhola. De 1936 a1939. Preso, torturado e condenado à morte. Sem direito a um Habeas Corpus. Nem à ampla defesa jurídica. Muito menos ao contraditório. Ele acabou fuzilado. Data: no trágico 9 de setembro de 1939. Aos 24 anos de idade. Não possuía filhos. É um dos enterrados no ‘Corral de Los desgraciados’. Em Ciudad Real. Sob a Prisão de Almagro. Na Espanha.

Os seus últimos dias de vida, registrados em curtas palavras em formato de cartas, foram trocados e guardados por sua irmã Josefa Racioneiro, já morta. Depois repassadas à sua neta, María José Bautista. Um tesouro. De papel. Uma herança da família. A ideia de Santos Cancioneiro era de que os seus não se envergonhassem de sua memória, luta e resistência. Em defesa da República Popular. Alvo do tanto do Franquismo, quanto do Nazismo. Assim como do Fascismo. Nunca esquecer. O que ocorreu. Oito décadas depois as suas memórias estão acesas.

_ Um passado que não passa.

Não custa lembrar. Em El Almagro, 53 fossas, valas comuns, foram abertas. Para identificação dos mortos e desaparecidos políticos. Sob a violenta Guerra Civil Espanhola e após o término do conflito. Com uma escalada conservadora e repressiva contra os adversários de Francisco Franco. Morto apenas no ano de 1975. Um exercício de 36 anos de poder absoluto. Na Europa. O suposto berço do mundo civilizado. Perfil dos enterrados: homens de 24 a 56 anos, membros do PSOE, PCE, da CNT e UGT. Fuzilados. Tiros na cabeça. Sem a entrega dos corpos as famílias.

A Guerra Civil Espanhola iniciou – se em 1936 e terminou em 1939. Com a derrota dos Republi­ca­nos. O golpe de Estado civil e militar de Francisco Franco obteve o suporte militar de Adolf Hitler, da Alemanha, e de Benito Mussolini, Itália. O ataque à Guernica, Espanha, em 1937, acabou imortalizado pelos pincéis de Pablo Picasso. A URSS, sob Josep Stálin, enviou agentes para matar anarquistas, trotskistas e socialistas. Ramon Mercader Del Río foi recrutado. Para ser treinado na Rússia e assassinar, em 20 de agosto de 1940, na Ciudad Del México, Leon Trotski

_ Líder da revolução russa de 1917.

Guernica

Guernica, tela celebrada assinada pelo artista plástico surrealista e cubista Pablo Picasso, nascido em 1881 e morto no ano de 1973, é um quadro histórico com 3,49 cm de altura por 7,77 cm de comprimento. Pintada a óleo. Trata – se de  uma verdadeira declaração de guerra plástica e humanista contra a guerra. Além de ser um manifesto simbólico contra a violência aos Republicanos e à população civil da Espanha.  É um ícone da Guerra Civil Espanhola. Mais: símbolo do antimilitarismo mundial e das lutas pela liberdade. Recurso estético antifascista.