Sem Alzheimer do passado
Doc-drama
Sem Alzheimer do passado
Sara Antunes revisita a História da repressão da ditadura civil e militar e de suas vítimas
Renato Dias
Mix de documentário e drama. Para um Brasil que mantém Alzheimer do passado. Do Tempo Presente. É a síntese de ‘Alma Clandestina’. A história de Maria Auxiliadora Lara Barcellos. De José Barahona. Aprovada em 3º lugar no vestibular para Medicina, em 1965, a cult Maria Auxiliadora Lara Barcellos entra em contato com o Brasil Real. Herança do escravismo colonial.
_ Da Casa Grande & Senzala.
Não teve dúvidas. Optou pelos de baixo. Na Universidade Federal de Minas Gerais obtém acesso a uma leitura crítica pós – golpe de Estado civil e militar, que depôs João Belchior Marques Goulart _ Jango. As revoltas estudantis de 1968 incendiaram o Brasil. Belo Horizonte aparece no mapa. Derrotados os estudantes, Arthur da Costa e Silva decreta o Ato Institucional nº 5.
_ O tempo fica nublado.
Não há alternativa política. Maria Auxiliadora Lara Barcellos cai na clandestinidade. Com uma mudança para o Rio de Janeiro. Já na VAR – Palmares. A opção é mesmo pela luta armada. Em 1969. Com Antônio Roberto Espinosa e Chael Charles Schreier é presa. Em um aparelho. Da organização. Não sem antes descarregar cartuchos de sua arma. Os três acabam na câmara.
_ De torturas.
Chael Charles Schreier é morto. Maria Auxiliadora Lara Barcellos é trocada. Com mais 69 presos políticos. Após a captura de Giovanni Enrico Bucher. Embaixador da Suíça. No Brasil. Os 70. Banidos para o Chile, em 16 de janeiro de 1971, logo após a posse do médico marxista Salvador Allende no Palácio de La Moneda. Santiago. Com uma agenda socialista de mudanças.
_ A revolucionária, que não dominava o espanhol, denuncia as torturas. Ao mundo.
Com o golpe de Estado civil e militar, no Chile, executado com o suporte dos EUA, em 11 de setembro de 1973, Maria Auxiliadora Lara Barcellos parte para o México. Dispensada por Reinaldo Guarany, engata romance. Com Vladimir Palmeira. Depois, refugiada, sem passaporte, embarca para a Bélgica. Destino final: Alemanha. Para concluir o seu curso de Medicina.
_ Dois golpes de Estado, prisão, torturas, fugas, medo. Brasil, 1964. Prisão, 1969. Banimento, 1971. Chile, 1973.
Psiquê em frangalhos
Sinais evidentes de stress pós – traumático, depressão, Transtorno Bipolar [TB] e Obsessivo e Compulsivo [TOC] afetam a sua psiquê. Cartas eram trocadas. Com a sua família. A sua paixão estava presa no Brasil: Antonio Roberto Espinosa. O romance com Reinaldo Guarany era marcado por traições dele. Com a sua ‘ex’. Em desaparecimentos súbitos. O que lhe afligia.
Como Frei Tito de Alencar Lima, Maria Auxiliadora Lara Barcellos não aguenta as dores que carrega. Nem obtém suporte. A morte lhe parece a melhor opção. Para acabar com fantasmas. A atriz Sara Antunes protagoniza o script. Com a desenvoltura dramatúrgica. Do teatral cinema inglês. Linda. Singular. O diretor, português, conta uma História real com narrativa e estética delicadas.
_ Alma Clandestina. Triste e necessário. Para o Tempo Presente. De Jair Messias Bolsonaro.