Ranulfo Borges
ArteCinema

Ranulfo Borges

 Cinema e história – 1984-2014

E S P E C I A L

Iris relembra Diretas

Já trinta anos depois

Ex-governador deu o ‘pontapé’ na campanha com comício

Ato na Praça Cívica, Goiânia, teria reunido 300 mil pessoas

Filme de Ranulfo Borges, inédito, participará de festivais

Documentário traz Chico Buarque, Henfil e Ulysses Guimarães

 

Renato Dias

Da Editoria de Política

O ex-governador de Goiás Iris Rezende Machado é o narrador do filme-documentário ‘A Praça Falou Mais Alto’, de 20 minutos de duração, exibido, no último sábado, no Cine Goiânia, na Capital. É o que informa ao Diário da Manhã o jornalista e cineasta Ranulfo Borges, 52 anos de idade e formado na Universidade Federal de Goiás [UFG] no ano de 1990.

– Rumor de botas e o humor das ruas na campanha pelas diretas já, em 1984!

Cassado dia 17 de outubro de 1969, pela ditadura civil e militar instalada em 31 de março de 1964, o ex-prefeito de Goiânia por três mandatos lembra a organização e a mobilização para o comício por eleições diretas para a presidência da República, ocorrido em Goiânia, na Praça Cívica, e que teria reunido 300 mil pessoas pró-emenda Dante de Oliveira [PMDB-MT].

– Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Luiz Inácio Lula da Silva se uniram pela democratização do Brasil.

Iris Rezende diz no documentário do diretor goiano que a campanha nacional foi deflagrada a partir de Goiás. O País ainda vivia sob a sombra dos quepes dos generais, recorda-se Ranulfo Borges, ex-repórter do Diário da Manhã. A emenda Dante de Oliveira acabou derrotada no dia 25 de abril do mesmo ano. O Brasil chorou e elaborou novo projeto tático.

– Derrotar, no Colégio Eleitoral, o PDS, Paulo Maluf e mandar os generais de volta aos quartéis!

Então inquilino do Palácio das Esmeraldas, Iris Rezende participou ativamente das articulações para viabilizar a candidatura do mineiro Tancredo Neves. Além de trabalhar para garantir a implosão do bloco governista com a criação da Frente Liberal, de Aureliano Chaves, vice de João Baptista Figueiredo, o último general-presidente, com a indicação de José Sarney à vice.

O cantor Belchior, o chargista e escritor Ziraldo, o velho timoneiro Ulysses Guimarães, presidente do PMDB, e o imortal Henfil aparecem no documentário. Inquieto, o jornalista já elabora novos projetos. Entre eles, o de transformar a história dos festivais de música em série de televisão. Mais: o homem espera enveredar-se também pelos caminhos dos curtas de ficção.

Perfil

Talentoso, com referências estéticas em Woody Allen, Silvio Tendler e Eduardo Coutinho, Ranulfo Borges afirma não integrar nenhuma escola cinematográfica e adotar “estilo próprio”. O diretor já fez cinco filmes. Integram a lista: “Colegas, companheiros e camaradas”, de 2010; “O Mundo é uma charge”, de 2014, 18 minutos; “Naqueles Festivais”, de 2014, 57 minutos.

– Assim como “A Praça Falou Mais Alto”, de 2015, e “Lobo Solitário”, este último a ser lançado ainda no primeiro semestre deste ano.

Serviço:

Filme: A Praça Falou Mais Alto

Duração: 20 minutos

Direção: Ranulfo Borges

Avaliação do documentário: Ótimo

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Saiba mais

Para entender as diretas já e a eleição no Colégio Eleitoral

Renato Dias

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15 de janeiro de 1985, 12h25, Brasília (DF), Capital da República, Congresso Nacional. Tancredo de Almeida Neves (MG), derrota o velho Paulo Maluf [PDS], no Colégio Eleitoral, sem a participação dos eleitores, por uma margem folgada: 480 a 180.  

Com o vice José Sarney [MA], um dos integrantes ilustres da ala Bossa Nova da velha e surrada golpista UDN, além de ex-presidente do PDS, o partido político de sustentação da ditadura civil e militar, forma a ‘nova’ Aliança Democrática [AD].

Vinte e um anos depois do golpe de Estado civil e militar de 31 de março de 1964, que depôs João Goulart, os militares ensaiam a saída da cena política e transferem o poder a um civil. O ponto final da ditadura civil e militar? Há 30 anos.

– Há controvérsias! [É o que afirma Daniel Aarão Reis Filho, doutor em História da Universidade Federal Fluminense]

Para o autor, o regime civil e militar acaba, de fato, em 1979, com a revogação dos atos institucionais. O que existe de 1979 a 1988 seria a transição de um ‘Estado de Direito Autoritário’ para um ‘Estado de Direito Democrático’.

– Com a Carta Magna de 5 de outubro de 1988.

Não custa lembrar

O PDS controlava o Colégio Eleitoral, que já havia abençoado Ernesto Geisel, responsável pela abertura, e João Baptista Figueiredo ao Palácio do Alvorada. Após a derrota, em abril de 1984, da Emenda Dante de Oliveira, o PDS racharia.

Aldo Arantes diz com exclusividade ao Diário da Manhã que o PMDB mais à esquerda é quem teria organizado, em Goiânia, em 1983, o primeiro ato público em defesa das eleições diretas para a Presidência da República. O segundo ocorreu em 1984.

– Organizado por Iris Rezende Machado [Quem informa é Ranulfo Borges, cineasta]

A campanha tomou as ruas e reuniu, na Praça Cívica, 300 mil pessoas para ouvirem as vozes de Fafá de Belém, Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Lula e aquele que seria ungido como a voz dos moderados e palatável aos homens de farda, Tancredo Neves.

– Um ex-ministro de Getúlio Vargas e primeiro-ministro de Jango.

Com a derrota, na Câmara dos Deputados, das Diretas Já Para a Presidência da República, o líder comunista conta que as chamadas forças democráticas se uniram para derrotar o regime civil e militar com as suas próprias armas: o Colégio Eleitoral.

Radical à época, o PT, presidido por Lula, recusou a proposta de ir para as eleições indiretas e boicotou a votação. Três, dos oito parlamentares do partido, Airton Soares, Beth Mendes e José Eudes, desrespeitaram a orientação e compareceram

As instâncias petistas não tiveram dúvidas: expulsaram os infiéis petistas. Sem dó nem contemplação. Airton Soares (SP), advogado de presos políticos, nunca mais foi eleito. A atriz Beth Mendes retornou às telenovelas da Rede Globo de televisão.

– No ano seguinte, o PT pulou de cinco para 16 deputados federais.

Outro lado

Já com Marco Maciel (PE), Guilherme Palmeira (AL) e Jorge Bornhaunsen (SC), Vilmar Rocha percorreu Estados do Brasil para converter membros do Colégio Eleitoral a optarem pela recém-criada Frente Liberal. “Obtive protagonismo nacional”, recorda-se.

Ele mantinha um canal de interlocução direto com Aureliano Chaves (MG), então vice do general-presidente da República, João Baptista Figueiredo. Éramos liberais autênticos, explica. José Sarney (MA) e Antônio Carlos Magalhães (BA) viriam depois, diz.

A transição, então, da ditadura civil e militar para a democracia no Brasil ocorreu com baixo custo político, analisa o liberal Vilmar Rocha ao Diário da Manhã. Pacificamente, destaca o velho dirigente. Ao contrário da Argentina e Chile, insiste.

Morre Tancredo Neves

Eleito, Tancredo Neves adoece e morre em 21 de abril do mesmo ano. José Sarney assume a presidência, consolida a Aliança Democrática [PMDB & PFL] e instala a chamada ‘Nova República’. O Plano Cruzado, elaborado por Dilson Funaro, é implantado.

PCB [Partido Comunista Brasileiro] e PC do B são legalizados e um Congresso com poderes constituintes é convocado, relata Aldo Arantes. O resultado é a Constituição Cidadã, promulgada em 5 de outubro de 1988, registra Vilmar Rocha.

Então governador do Estado de Goiás eleito em 1982, Iris Rezende viraria ministro da Agricultura. Henrique Santillo foi eleito para o Governo de Goiás, em 1986. As eleições diretas são restabelecidas apenas em 1989. As últimas ocorreram em 1960.

Infográfico

A ditadura em números

64

Ano do golpe

de Estado

no Brasil.

431

Número de

vítimas no

Brasil pós-64.

480

Número de votos

obtidos por

Tancredo Neves

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Dicas de Leitura

  • A ditadura que mudou o Brasil – Daniel Aarão Reis Filho
  • Ditadura e democracia no Brasil – Daniel Aarão Reis Filho
  • À sombra das ditaduras [Brasil e América Latina] – Janaína Cordeiro e outros
  • Estado e Oposição do Brasil – Maria Helena

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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