Abusado, O Pasquim desafiou ditadura
[1969-1991]
30 anos depois do fim do tabloide de Tarso de Castro, Paulo Francis, Millôr, Jaguar e Ziraldo
Renato Dias
Legítimo filho das revoltas de 1968. O ano que não terminou. Como aponta Zuenir Ventura. A data de nascimento é ilustrativa: 26 de junho de 1969. 365 dias após a passeata dos 100 mil, no Rio de Janeiro. Com a participação de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Nelson Rodrigues relata que na manifestação não havia um negro, pobre ou desdentado. Assim nasceu o semanário ‘O Pasquim’. Com um elenco de jornalistas de Série A. Da tropa de elite.
Abusado. Assim era o principal jornal da imprensa alternativa ou nanica. Um tabloide a favor do contra. Com Tarso de Castro, Paulo Francis, Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo. Sob a ditadura civil e militar que, com um golpe de Estado, derrubou o nacional-estatista, em sua versão trabalhista, João Belchior Marques Goulart. Gaúcho de São Borja. Uma noite que durou 21 anos. Um veículo que ri de si mesmo. Um de seus bordões que destilava a mais fina ironia.
Não demorou tanto dias. Uma parte da redação parou atrás das grades. A ideia era desdenhar das convenções e topar correr riscos. É possível, sim, conceituá-lo como um tabloide especializado em humor corrosivo. Um sopro revigorante. Não custa lembrar, com linguagem e formas inventivas. ‘O Pasquim’, corajoso como um rato. Um contra – atributo estampado na capa. Do semanário, cuja tiragem atingiu a marca histórica de 250 mil exemplares. Inédito.
Henfil é o criador dos termos Putzgrila! eTop top top! Memória histórica. O nº 1 de ‘O Pasquim’ chegou às bancas no dia 26 de junho do ano de 1969, com 14 mil exemplares. Depois, às pressas, mais 14 mil. Ah! O primeiro entrevistado? Ibrahim Sued. Com um furo de reportagem. O general linha-dura do Exército, Emílio Garrastazu Médici, seria o próximo presidente. O ‘milico-mor’ assumiu o cargo em uma solenidade ocorrida no dia 31 de outubro de 1969.
_ Da República, no Brasil. De 1969 a 15 de março de 1974. [Ibrahin Sued era colunista social]
‘O Pasquim’ sobreviveu, com dificuldades, à censura e de caixa, exatos 22 anos. De 1969 a outubro de 1991. Nada mais nada menos do que 1072 edições. O tabloide insurreicional, incendiário, carbonário, enfrentou, sem se curvar, três generais-presidentes da República: Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel, João Baptista de Oliveira Figueiredo. Dois civis: José Ribamar Sarney, autor do livro ‘Marimbondos de Fogos’, e Fernando Collor de Mello, ex-PRN.
_ O suposto ‘Caçador de Marajás’, que acabou alvo de impeachment, em outubro de 1992.
‘O Pasquim’, número 22, de 20 de novembro de 1969, traz na capa Leila Diniz. Em 14 de janeiro de 1971, Jorge Amado, o entrevistado. Edição de 6 de novembro de 1973, Ângela Gillian, antropóloga, dos EUA, personagem entrevistada. Racismo no Brasil é denunciado. O censor do jornal é demitido. Número 300 _Censurado! Por ironia de Millôr Fernandes. ‘O Pasquim’, número 409, 29 de abril de 1977, entrevista o advogado, lenda do Brasil, Sobral Pinto.
Semanário nanico, edição 456, 24 de março de 1978: Lula _ Salário mínimo é isso aí! Exemplar especial de número 473, data de 21 de julho de 1978, o tema da pauta é Anistia. Já em 2 de novembro de 1979 a manchete de capa é ‘Prestes para o Pasquim’. O jornal número 1.072 aborda o acelerado processo de abertura ao capital externo, a desnacionalização da economia, desmonte do Estado Nacional, herança de Getúlio Vargas e de João Belchior Marques Goulart.
_ Usiminas, Petrobras, Vale do Rio Doce. Privatização é o cacete!